19.2.09

A cor do vinho - cap. 4

Sai de casa feliz aquele dia. O sol brilhava de uma forma diferente. Todos me encaravam.
Eu adorava toda aquela atenção. Sabe como é, quando se passa de gata borralheira pra Cinderela da noite pro dia, a gente só quer aproveitar. Pelo menos isso eu fiz de bom.
Cheguei ao tal ponto de encontro dos meus amigos com alguns vários minutos de atraso. Meu objetivo era ser a ultima a chegar, para ter certeza de que todos os olhos se voltariam para mim.
Foi mais ou menos o que aconteceu.
Coloquei o pé no gramado perto do pátio da escola. E o que se seguiu parecia mais uma cena de filme.
Um ventinho bateu e brincou com meus cabelos. Os meninos se viraram e me encararam. Seus queixos caíram.
Se remexendo debaixo daqueles uniformes de futebol, alguns esfregaram os olhos, para ter certeza de que estavam vendo direito. Outros soltaram assobios e se aproximaram. No final, tinha uma rodinha ao meu redor, os olhos querendo aprisionar cada mínimo detalhe. E eu de pé, sorrindo, contando uma mentira para explicar tal mudança, fazendo movimentos exagerados com a cabeça, olhando os garotos nos olhos.
Como era de se esperar, logo depois daquela agitação recebi uns três convites para jantar. Já que não tinha muita coisa para fazer, aceitei um.
O nome do menino era Amadeo. Nunca gostei dele. Sempre o mais bonito do grupo, tinha tanto orgulho que, se fosse comestível, dava pra acabar com a fome no mundo. Achei que podia ser uma boa vitima.
Saímos naquela mesma noite. Ele me pegou em casa (e se assustou com o buraco em que eu morava) em seu carro importado, elogiou minha roupa (não era nada de mais. Na verdade já tinha usado aquela blusa três vezes) e me levou para um restaurante de um hotel.
Eu nunca tinha ficando tanto tempo assim em um lugar tão cheio de pessoas ricas e fúteis. Amadeo era um deles.
Ficava o tempo todo falando do seu dinheiro, dos seus planos para o futuro, dos seus contatos pelo mundo afora. Ria alto de mais e tentava me tocar com grande frequência. Eu não gosto de pessoas tocando em mim. Ele teve muita sorte da faca não ter ponta .
Já tinham se passado 3 horas naquele lugar e eu não tinha conseguido me divertir. Aquela comida requintada de mais não era boa, e meus ouvidos queriam sangrar com tanta baboseira que Amadeo falava. Aquela noite parecia ser a pior da minha vida. Estava prestes a me levantar, mas ele me impediu. Acho que foi a primeira vez que meu acompanhante prestava atenção em mim e não no próprio umbigo. Ele segurou a minha mão.
-Ei, Íris, ta tudo bem? Ta curtindo a noite? Se você não gostava desse tipo de comida, tudo bem.
Ele me deu atenção. Agora vou me aproveitar.
-Não se preocupe Amadeo, tudo estava ótimo. Maravilhoso. É que eu to um pouco cansada, sabe. Muita coisa acontecendo na minha vida, e já ta um pouco tarde...
-Estamos em um hotel, linda. Se você quiser, podemos ficar em um quarto.
-Se você não se importar... – Ele tinha chegado ao ponto. Falou a frase correta. Hora de me divertir.
-Claro que não me importo! Pode ir para o elevador, eu vou chamar o garçom.
Procurei um mapa, segui por uma série de corredores e me perdi. Me perdi umas 5 vezes. Mas enfim cheguei no quarto. E Amadeo já estava lá.
Havia uma garrafa de vinho sobre a mesa, junto com alguns botões de rosa. Eu estava rolando de rir por dentro.
Ele saiu do banheiro vestindo um roupão. Parecia um daqueles magnatas podres de rico que usam seu dinheiro para conquistar mulheres maravilhosas. Resolvi entrar no teatro.
Tudo o que se seguiu foi nojento. Eu não gostava dele. Ele gostava do meu corpo. Nos deitamos na cama e eu tive a brilhante ideia de abrir o vinho. Na verdade, foi a melhor ideia da noite.
Eu abri a garrafa e me deitei ao lado de Amadeo. Sorri da forma mais assustadora que podia. Comecei o meu discurso.
Perguntei se ele gostava de vinho. Ele disse que sim.
Deixei cair um pouco de vinho na boca dele.
Perguntei se ele gostava de mim. Ele disse que sim.
Fiz a mesma coisa.
Perguntei se ele se divertia enganando garotas com toda aquela grana. Ele se assustou. Tentou falar alguma coisa, se proteger sob as palavras. Mas acabou se afogando nelas.
Virei a garrafa de uma vez pela garganta do garoto. Nunca gostei dele mesmo.
Depois de se engasgar um pouco, ele ficou meio roxo, da cor do vinho. Ficou em silencio. Eu gostava mais dele assim, quieto. E depois dormiu.
Fiquei encarando aquele corpo inerte por alguns segundos. Ele realmente era bonito quando de boca fechada.
Limpei o rosto do garoto, troquei os cobertores sujos de vinho por cobertores limpos, coloquei-o deitado, parecendo que estava dormindo e saí.
Não sei se foi premonição, intuição, pressentimento ou só um arrepio, mas senti que devia voltar pra minha casa o mais rápido possível.
Aquilo tudo parecia um jogo. Matar, fugir. Eu estava me divertindo.

14.2.09

Memórias - cap. 3


Não quero imaginar o que vai acontecer agora. Destino me pediu para treinar com coisas pequenas, coisas que não respiram. Mas esse velho me da pena. Eu sinto que o conheço de algum lugar.
A adaga está fria contra a minha pele, me faz tremer. Mas eu não vou parar de andar.
É nessas horas que gosto de relembrar o que aconteceu comigo, para ver se tudo faz algum sentido, para saber se estou no caminho certo.

-Então vou te dar instruções. Você deverá segui-las a fio, sem nenhum erro. Por enquanto, apenas irei treiná-la. No final, você terá o que quiser.
Ótimo. Tudo o que eu queria era isso. Mas quando virei o rosto, o homem tinha desaparecido. Não achei tão estranho assim, ele podia ser um enviado. Podia ser meu pai, quem sabe.
Me levantei e voltei para casa, ansiosa pelas instruções.

Fiz o caminho de volta cantarolando. As pessoas me encaravam.
Raios de felicidade deviam estar saltando para fora do meu corpo. Uma senhora atravessou a rua para me evitar e algumas crianças saíram correndo. Devem ter pensado que eu estava bêbada.
Cheguei em casa mais rápido que o normal. Abri a porta do cubículo com uma cama, um banheiro e pacotes de comida pronta acumulados pelos cantos e entrei, passando para dentro com um passo de dança.
Tudo parecia maravilhoso de mais. Parecia de tinham passado uma mão nova de tinta naquele quadro velho e desbotado que era minha vida.
Fui lavar o rosto. Me olhei no espelho. E gritei.
Não foi de susto. Bem, meio que um susto. Mas o que senti foi uma surpresa irresistível, uma surpresa boa.
Eu me vi no espelho, e estava linda. Minha beleza não era normal, mas era uma beleza sem igual, que por mais que possa machucar, nos faz querer mais. Era uma beleza sádica.
Eu estava maior e mais magra, meus dedos mais longos. Eu não conseguia acreditar. Devia estar sonhando.
Toquei o meu rosto e descobri. Era realidade. Sorri.
Meu sorriso estava assustador, de dar calafrios. Parecia com o sorriso natural e falso das bruxas que atraem animais pequenos e peludos para dentro de casa.
Eu parecia uma bruxa. Um fantasma. Um ser qualquer, mortífero e lindo. E vou me aproveitar disso.
Não dormi. Passei aquela noite testando meus novos dotes. Eu estava mais leve do que nunca. Dancei, fazendo com que meus movimentos bruscos parecessem graciosos naquele novo corpo alongado.
Fiz malabarismo com as facas pontudas guardadas na gaveta, sem sofrer nenhum arranhão. Saí para rua e segui silenciosamente os casais desatentos para pregar-lhes sustos. Ninguém conseguia me pegar no flagra.
No dia seguinte abusei. Peguei uma roupa que tinha ganhado de um amigo, porem nunca tinha usado, e a vesti.
Era um vestido curto, vinho, de seda. Simples. Prendi um botão de rosa negra em uma das alças e sai. Estava louca para ver a reação dos garotos.

11.2.09

Agora - cap. 2

Agora, neste instante, estou sentada debaixo de uma chuva que parecer ter o objetivo de engolir a Terra.
Eu adoro a chuva. Adoro o humor dela. Tem aquelas chuvas suaves, que querem molhar a terra e divertir os casais. Aquela chuva mais forte, que deixa um cheiro de natureza no ar e nos faz ter vontade de ficar em casa e tomar um chocolate quente. E tem aquelas chuvas, como a que está caindo agora, que querem destruir. Matar. Envolver as cidades em suas águas e afogar tudo e qualquer coisa que respire. Ou não.
Eu realmente não ligo muito se me resfriar. As gotas que caem são gordas e pesadas, são frias. E vem junto com um vento. O céu está chorando.
Certamente vocês já sabem de duas coisas sobre mim: ando com meninos e acredito no além. Mas acho que estão curiosos em saber mais. Eu estaria.
Como o único barulho que consigo escutar agora e de água caindo, e tenho certeza de que meu dever demorará um pouco para ser cumprido, irei contar-lhes um pouco sobre mim. Ou sobre como eu era antes de conhecer Zach ou Destino.
Meu nome é Íris. Não sei se foi ideia dos meus pais ou alguma maluquice da Bruxa, que diz que esse nome tem tudo a ver comigo, mas meu nome é Íris. E eu adoro ele.
Tenho cabelos pretos. Muito pretos. E os olhos verdes. E só, nada mais de especial. Várias cicatrizes pelo corpo (marcas da minha amizade com garotos) e 1 metro e 85 de altura.
Sou o cinismo em pessoa, porém não sou falsa. Tudo que tenho pra falar mal de alguém ou eu guardo, ou falo para a pessoa. Não sou má.
Dizem que meu sorriso é meio assustador, já que meus dentes são meio pontudos. Mas eu só sorrio pelas causas normais, não sou sádica nem nada.
Em brincadeiras de ‘que animais seriamos se não fossemos pessoas’, eu digo que sou uma gata. Digo isso pois sou sorrateira, ando sem fazer barulho nenhum, sem deixar rastros.
E minha voz lembrava folhas secas se partindo e o gotejar de água contra pedra
.
Infelizmente, terei que deixar minha descrição por aqui. Parece que meu convidado, um velho lá pros 70 anos se escondendo da chuva com um jornal, puxando um menininho pela mão, acabou de chegar.
E eu o segui.

8.2.09

Provavel Começo

Sou uma menina normal. Exceto pelo fato de andar mais com os meninos e ter uma certa ‘paixão’ pelo além.
Sou órfã, perdi meus pais não sei como. Nunca se deram ao trabalho de me contar. Fui criada em um lar para meninos. O para meninas estava sem espaço. E a mulher que nos alimentava se dizia uma Bruxa. Vivia lendo o futuro nas estranhas de pobres animais e nos contando historias de feitiços.
Como da pra perceber, sempre fui meio jogada de lado. Minhas exigências ficavam para segunda opção.
Até o dia que eu o conheci. Estava acostumada a andar com meninos, já não ligava muito pra quando eles tiravam a blusa ou sussurravam no meu ouvido. Mas com ele foi diferente.
Conheci Zach num dia como todos os outros. Estava treinando minhas falsas manobras de skate e me machucando ao tentá-las. Não ligava muito para o que as pessoas pensavam, mas ele percebeu que meu joelho estava sangrando e foi me ajudar.
Ficamos amigos. E me apaixonei por ele.
A partir daquele dia eu tinha uma rotina diferente. Ia pra escola, dava uma volta com os amigos e depois passava o resto do dia com Zach.
Ele fazia tudo parecer maravilhoso, sempre ria comigo. Ele fazia com que eu me sentisse especial. Mas eu tinha medo.
Ele era incrível de mais, e eu era sem graça de mais. Ele não podia querer ficar comigo, devia ser parte de uma aposta ou algo do tipo. Mas eu o amava.
Faziam dois meses que estávamos juntos. Eu podia ter apenas 18 anos, mas tinha certeza de que aquilo era pra sempre.
Eu estava esperando Zach na praça. Ele estava um pouco atrasado, mas mesmo assim esperei. Estava feliz de mais para me preocupar. Só que duas, três horas se passaram, e quando começou a escurecer, comecei a chorar.
Ele não viria. Não iria me ligar mais. E tenho certeza de que os meninos que me encaravam de longe sabiam de alguma coisa.
Ia me levantar e voltar pra casa, mas um homem apareceu, se sentou ao meu lado, e me pediu para ficar.
Ele se apresentou.
-Boa noite menina. Sou Destino.
Nome engraçado, pensei. Mas não tive tempo para pensar mais, ele continuou falando.
-Estou te observando há um bom tempo. Acho que sei o suficiente sobre você para falar que, depois desse fracasso de relacionamento, você está convicta de que viver não vale mais a pena. Ou de que quer se vingar.
Ele estava certo, mas achei engraçado. Como ele podia saber tanto sobre mim?
-Deve estar se perguntando uma série de coisas, mas agora não posso responder. Estou aqui para te ajudar. A se vingar, claro. Se quiser morrer, procure minha irmã.
-Eu quero me vingar.
Minha voz não falhou. Eu estava fazendo a coisa certa, tinha certeza.
-Então vou te dar instruções. Você deverá segui-las a fio, sem nenhum erro. Por enquanto, apenas irei treiná-la. No final, você terá o que quiser.
Ótimo. Tudo o que eu queria era isso. Mas quando virei o rosto, o homem tinha desaparecido. Não achei tão estranho assim, ele podia ser um enviado. Podia ser meu pai, quem sabe.
Me levantei e voltei para casa, ansiosa pelas instruções.
Ah, como eu era ingênua.

3.2.09

E O Grande Temido ..

Primeiro dia de aula.
Eu acho que todo mundo, ou pelo menos 80% das pessoas que passaram pela experiência do 'primeiro dia' sofreram com o frio na barriga e a insegurança.
Bem, vai ser tudo meio que novo. Sua turma pode ser nova, o material, as vezes tem um aluno novo, e até a escola nova. E a gente fica naquela coisa de aceitação:
"Será que aquele cara gato vai ver que eu engordei?"
"Ai caramba, acho que ta todo mundo me encarando"
"Que que vai ser de mim sem minhas amigas na mesma turma"
É, eu já passei por isso. Hoje.
Foi meu primeiro dia de aula na minha escola que é careta elevada ao cubo. Bem, já estou há três anos lá, mas agora muuuita coisa mudou.
Estou no 9° ano (se você esperava uma filosofa da faculdade, desculpe, não sou), comecei a estudar de manhã e os professores misturaram todas as turmas.
E pra piorar tudo, minha série é meio que 'a mais nova'. Porque do oitavo ano pra baixo, as aulas são à tarde.
Então, como qualquer garota normal, sai de casa com tremedeiras nas pernas e cheia de ansiedade. Mas quando cheguei na porta da escola, tudo parou.
É que eu pensei. Pensei que não precisava ligar para as coisas que os idiotas dos mais velhos pensavam. Pensei que, independentemente da turma em que eu estiver, vou sempre ter minhas amigas. Pensei em muitas coisas e mais um pouco, e acabei tornando meu primeiro dia um dia banal, como todos os outros na escola. Tá, quase todos. Porque os dias de prova, para mim, trazem mais ansiedade que 100 primeiros dias.
Se você tiver a síndrome do primeiro dia, pare pra pensar um pouco. As vezes pode ajudar bastante.

2.2.09

Aula de Redação - 2

Tema: O que é liberdade ? Você é livre ?

A imagem básica da liberdade é o passarinho, sejamos sinceros.
Passarinho, aquele animal que voa.
Mas ele não é tão livre assim. Quero dizer, eles vivem presos em uma rotina. Voar, construir um ninho, guardar comida, botar ovos...e tem aqueles passarinhos executivos que vivem migrando. Todos os passarinhos tem essa rotina. Exceto aqueles que vivem presos e falam, claro.
Se fosse realmente um bicho livre, o passarinho iria sair da rotina.
O pardal deixaria de construir o ninho num ipê para construir num pinheiro, viraria vegetariano e seu parceiro seria um bem-te-vi. Uma vida assim, sem preconceitos.
O pardal, então, aprenderia a falar com a maritaca para nos responder uma pergunta:
-E então, pardal, o que é ser livre ?
-Sair da rotina - diz o animal, com certo sotaque - e gostar disso.

1.2.09

Aula de Redação - 1

Muitas pessoas definem a vida por momentos.
Algumas acham que a vida é vivida nos momentos com amigos. Outros gostam mais daqueles momentos "naturebas", fazendo trilhas, pescando.
E, provavelmente todo mundo, fala que a vida é definida por graaandes momentos.
Eu discordo.
Para mim, os momentos que mais definem a minha existência são pequenos.Minúsculos.
O meu favorito é celebrado toda sexta. Sexta-feira é dia de lasagna.
Aquele barulhinho que a lasagna faz quando a gente enfia o garfo nela... É incrível. Me faz sorrir.
Agora, se me dão licença, estou sentindo cheiro de lasagna pronta. Hoje é sexta.


Porque 'aula de redação'?- Nas aulas de redação da minha escola a gente não faz nada. Bem, quase nada. Mas a professora manda uns temas pra gente fazer texto de dever. Tem alguns que eu adoro. Esse é só o primeiro.