23.9.09

Uma breve ideia da vida

Peço-lhes licença para falar da vida. Dessa vez, não em uma cronica. Mas em uma historia que aconteceu comigo. Ah, a vida.
Passei dois anos de minha infância e pré-adolescência em Brasília. Era tudo lindo. Eu não ligava para minha aparência (graças a Deus, pois se ligasse nunca seria feliz) nem para a aparência dos outros, estudava numa escola pequena e tinha muitos amigos. A única coisa que me fez chorar lá foi a hora de ir embora.
Era como se tivesse um bolo delicioso na mesa que estava prestes a acabar, e eu tinha que comer, mas não podia. Ou como uma festa da qual eu não quisesse sair. Não, não era isso. Era como se eu estivesse deixando minha vida perfeita de lado e nunca mais a recuperasse.
Pois é, foi isso que aconteceu. Perdi minha vida perfeita. Voltei pra BH e passei um ano de inferno. Chorava muitos dias, sofria bullying na nova escola, ainda não tinha achado amigas... e meu refugio era Brasília. Sempre que eu podia, ia pra lá. Mas não era sempre, e acabei perdendo contato com meus amigos. Nada podia ficar pior.
No ano seguinte mudei de turma. Tudo apontava para uma tragédia. Teria de arrumar novas amigas, sofrer com outros bullys e aguentar a pressão pra passar de ano. Arrumei as amigas, não tinham mais bullys e passei de ano. Aí veio a questão aparência.
Chegava na adolescência com tudo. Espinhas, barriga, hormônios. Não gostava de mim mesma, e achava que os outros também não. Meninos, então, nem se fala. Minha vida social era na escola, e lá não tinha nenhum garoto que, digamos, 'prestasse'. Tentava ignorar isso com o máximo de bom humor, descontando no meu amor por musica.
Veio então 2009. Encontrei minha turma de amigos. Descobri meu estilo. Aprendi a cuidar das minhas notas. Achei também meninos. Sofri por eles, mas não posso dizer que não aproveitei.
Só que hoje, ao chegar em casa e ver que meu mais novo amor platonico estava namorando, não senti nada. Isso mesmo, nada. Nada daquela conhecida dorzinha no peito, que me dava vontade de gritar. Porque, finalmente, descobri que a vida é boa demais e curta demais para se reclamar dela.
Então, esqueci tudo de ruim que aconteceu comigo. Sou uma pessoa linda, uma pessoa feliz. Quero sentir novas musicas, ouvir novos sabores, experimentar novos amores.
Isso é um desabafo, de mim, para mim. Erika (sim, meu nome não é Alice), se liga! Para de conhecer homens pela Internet e investe naquele que tá do seu lado e te ama. Para de olhar fotos de modelos em revistas e seja feliz como você é! Perdoem-me os cliches mas...existe uma razão para eles serem cliches.
É isso. Vamos todos entender o que quer dizer uma 'vida muito curta, mais muito boa'. Vamos viver.

9.9.09

Fobia


A perna enfraquece. Pra andar, tenho que fazer aquela força mais forte que o mundo, mais forte que eu. Dou um passo. Pou! O pé se joga no chão, pedindo trégua. Mas continua, não tão firme e nem um pouco forte, na direção da forca.
Sento-me naquela cadeira grande. Me deito. Mas só deito porque me obrigaram. Olho para cima, uma luz forte, que me cega. Desvio o olhar. Do lado, uma mesa de metal com os instrumentos de tortura. Todos prateados, limpos e brilhantes, pontiagudos. Desvio o olhar novamente. Agora vejo o meu carrasco. Ironicamente, se veste de branco. A roupa, as luvas, a mascara, a touca.
Senta-se ao meu lado e sorri. Pergunta como estou enquanto abre a minha boca e enfia uma navalha entre meus dentes. Uma lágrima cai.
São 40 minutos que passam como horas, dias e noites, anos e três longas vidas. Demora a acabar. A dor não passa, a tremedeira não passa, o medo não passa... E não posso pedir socorro, ah se eu pudesse.
Me levanto da cadeira segurando um choro que, quando é autorizado a sair, nunca para. O Carrasco fala. Fala que terei de ir lá outras vezes. Para uma tortura pior. Colocar aparelho horrendo e que causa dor, preso em mim por dois longos anos. Em silencio, peço socorro.
Entro no carro correndo, começo a chorar lá dentro e só paro ao sentar aqui na frente, pois não consigo enxergar as teclas.
Tenho fobia. Não, não tenho, eles que são cruéis. Sim, tenho. Não. Sim. Socorro. Preciso de uma saída. Preciso de um socorro, preciso de fugir.

4.9.09

A Festa


Começou. Você se arruma toda, coloca aquele vestido caro e os sapatos desconfortáveis. Chega no lugar depois de todo mundo, sente um pouco de vertigem e costura aquele sorriso amarelo no rosto. Tem que sorrir. Passar uma boa imagem. Quase ninguém te conhece, ou até conhece, mas aquela meia garrafa que você bebeu duas horas antes faz com que todos tenham a mesma cara. Acha uma cadeira, se senta, tira os sapatos, os brincos, só não tira o vestido porque a avó a proibiu de ficar à vontade. “Não é pra você se sentir em casa, entendeu? Não me envergonhe.”. Começa o discurso. Você vê as bocas se mexendo, um som estranho sai de dentro delas, mas não consegue escutar nada. Um celular tocando. Pessoa mal educada, não deixa o celular no silencioso. Infelizmente, esse toque te pertence. Atende. Oi! Não, não, eu me esqueci, desculpa... O que, é pra amanha? Droga! Mas amanhã não era o teste? Xi, cara, tenho que desligar agora. Tem um bando de velho louco me encarando. A gente se fala. Você falou alto demais, como sempre, mas o discurso de 20 páginas do homenageado é mais importante, e alguns segundos depois já te esquecem. Tira da bolsa o gloss e começa a brincar. Pinta a mesa, os dedos, passa nos lábios e mata a fome com o gosto de morango falso. Alguém falou de um coquetel, não viu nenhum até agora. Ai, a fome. Garçon, me traz um copo d’água, por favor! Ah, não. Será que aquele homem era importante? Garçon não era. Acabou. Até que enfim. Toca o hino nacional. Aparece uma mulherzinha num salto agulha 15 e uma guitarra pra tocar. Caramba, que voz de igreja. Um hino nacional nunca demorou tanto pra acabar. Será que já acabou mesmo? Você procura um banheiro em todos os lugares, e nunca acha. Aparecem vários rostos conhecidos e desconhecidos. Bocas velhas de batom beijam o seu rosto. Aquele gordo com um bafo chega perto. Vamos fugir, por favor, não aguento mais. Acabou? Acabou! Chame um táxi, por favor. Ah, a premiação? Foi ótima! Mal posso esperar pela próxima.