22.1.10

Decepção


É acordar louco por uma omelete, sonhar com panquecas e gemas douradas esperando por você. Arrastar-se até a cozinha e pegar dois ovos na geladeira. Podres. Pegar mais dois. Podres. Outros dois. Podres. E os ovos acabam. Podres. E você sem omelete.
É ver a maior caixa de presentes sob a árvore de natal com seu nome escrito. Começar a rasgar o papel até algum parente se lembrar que as etiquetas estão trocadas. Na verdade, você ganhou um pijama.
É chegar atrasado em algum evento que você espera há anos. Perder os ingressos do show da sua banda favorita. Estudar dias para a prova de Física e descobrir que estudou o conteúdo errado.
Decepção é descobrir que namora gêmeos, saindo cada dia com um diferente. E todos sabiam, menos você.
Decepção é perceber que está usando meias diferentes e tem uma mancha de pasta de dente na cara no primeiro dia de aula.
E decepção é amar.
É dor. É choro. Lágrimas quentes. Banho de agua fria.
E bola pra frente. Sorriso no rosto. Musica alta, gente nova. E começa tudo de novo.

11.1.10

E A Solitude Utópica...

Hoje, sem querer, me peguei revirando gavetas e arrancando folhas de caderno. Cacarecos jogados pelo chão, antigas fotografias sobre a cama, material escolar de quase 10 anos atrás.
Quando dei por mim, já não era mais possível entrar no meu quarto. Foi então que resolvi prestar atenção no estrago, e me deu vontade de chorar.
Procurei algum espaço no meio da assustadora bagunça e me deitei no chão. Sentia o cheiro da memoria misturado com o cheiro da poeira. Conseguia ver pedaços de bonecas quebradas da mesma forma que via a saudade. E o peso de tudo começou a cair sobre mim. Ele caiu tão forte, e tão rápido, que me fez pensar em um milhão de coisas durante uma fração de segundo. E foi assim que acabei me decidindo sobre o sentimento que vem me atormentando há vários meses.
É como se eu estivesse sempre deitada no chão, e com uma onda sobre mim. A onda da sociedade. A onda que me impede de ser eu mesma e me cobra mais e mais a cada dia, e quanto mais eu faço pra agradar essa onda, mais ela me cobra, sem nunca agradecer. E essa onda está sempre a centímetros de mim, prestes a entrar na minha garganta, nos meus ouvidos, nos meus olhos, prestes a me afogar.
Tem dias que tudo o que eu quero é isso. Que ela me sufoque. Então, eu não precisaria de pensar em mais nada, e viveria em uma solitude plena. Calma. Sem mais nenhuma cobrança.
Mas o pior que essa onde faz é tirar meu ar e, quando eu penso que já estou livre de tudo, ela vai e me acorda de novo.
Eu ainda quero conseguir nadar contra essa onda. E eu vou. Quando eu conseguir encontrar forças, porque hoje de manhã ela me deixou muito tempo sem respirar.