20.3.10

Adeus, Aurora


A casa era arejada. Vasos de planta por todos os lados, janelas abertas e uma porta de vidro separando a sala de estar do quintal. Não era o cenário perfeito para o que ela estava prestes a fazer. Aurora, definitivamente, preferiria uma casa tenebrosa ou um apartamento luxuoso - uma coisa mais dramática, cinematográfica. Mas ela simplesmente não tinha escolha. Era um daqueles momentos que, se ela resolvesse esperar até o dia seguinte, nunca aconteceria. Agora ou nunca.
O que ela faria seria considerado, no mínimo, exagerado. Chocaria os vizinhos, muitos diriam ser um ato insano. Poderia, até mesmo, sair em algumas manchetes. E, com sorte, todos esqueceriam em questão de semanas.
"Por que, por que? Ele não podia... Não podia!". Entre lágrimas, essas eram as palavras que Aurora repetia enquanto quebrava os vasos e a terra se espalhava pelo chão.
"Ele" era Benjamin. "Ele" era inseguro. "Ele" dera a ela os momentos mais lindos de sua vida. E "Ele" foi embora. Foi embora por medo de se apaixonar.
Aurora não conseguia - e não queria - entender. Medo de se apaixonar? Um idiota. Era isso que "Ele" era. E quando ela colocou o dedo no gatilho da pistola automática, o viu. Devia ser um truque de sua mente para deixar tudo mais difícil. Mas ignorou. E atirou. E enquanto caía, ouviu um último grito. Tudo ficou escuro e Aurora, vazia, no chão.
Agora "Ele" jazia, a chorar, sobre o corpo de Aurora, com uma rosa se despedaçando em sua mão.