23.9.10

Agendas



Ontem abri minha agenda para checar meus afazeres. Passei, sem paciência, aquelas páginas rabiscadas de um antigamente recente. Cheguei no hoje e percebi, meu deus!, o quão pouco faltava para o fim. Como tudo tinha passado. Como o seu aniversário estava chegando. Mais três capítulos e acabava aquela pseudo agenda pessimamente utilizada.
Sentei-me na cama com dores nas costas, a velhice precoce me matando. O peso do tempo se repousando na memória. Contei nos dedos: dois dias para a primavera.
Peguei novamente a agenda, dessa vez por vontade de análise. Desde o começo do ano, resoluções incompletas, alguns vários deveres sem término. Tudo inacabado. Menos a agenda. E mesmo contra a minha vontade, o tempo passava e, ao seu tempo, a agenda acabava.
Eu também acabava. Não meus textos e pinturas, mas sim meus desejos e crenças. Me achava crescida. Pronta. Que já sabia de tudo e não precisava mais da sua ajuda. Mal sabia eu que não era bem assim. Não sabia nem mesmo cultivar uma agenda para que ela florescesse saudável na primavera.
Vi o cachorro deitado no chão, a fumaça do incenso subindo, fazendo desenhos e contornos do nonsense. Seria agora tarde demais?
Dois dias para a primavera. Três capítulos para o fim de já. Mas não seria hoje o começo do fim de tudo? Ó, tormento! Tudo o que eu precisava era de uma noite de sono, e não de mais afazeres para o dia de amanha.
Anotei na agenda, com pressa, no primeiro dia de primavera: "Faça valer a pena". Recostei a cabeça e esperei o sono vir, rezando para não esquecer de checar a agenda no dia certo.
Acordei pensando que seu aniversário chegava. Assim como o fim. Os dias passam. E a agenda, ela está logo ali.

18.9.10

Criação Conjunta

Por ti ser
cortiça
que espicha
espreme
esfrega
escreve na cara
a espera dos
esporos entre
os poros
em nossos
porões absolutos.

VÁCUO


Lenora Rohlfs e Erika Rohlfs