9.5.09

Gritos de Agonia - Cap.13

-Eu comecei a gritar. A gritar muito. Ele agarrou meus ombros, cravando suas unhas sujas em minha pele, me rasgando, chegando a minha carne. Ele me puxava.
“-Eu tive que passar por isso, Nicolas! Passei por coisas muito piores! - Ele dizia, enquanto me levantava e me encostava em uma árvore. Me fazia encará-lo, mas eu não conseguia. Minha mente estava bagunçada, minha visão estava turva. Ele começou a bater no meu rosto.
“Me chamou de rebelde de novo, mas eu não conseguia nem mesmo perguntar o porque. Minha boca estava cheia de sangue. Eu já não enxergava mais nada, Íris. Só escutava. Escutava meus músculos gritando por piedade, berrando enquanto eram mutilados.
“Por um breve momento, Destino me olhou como se tivesse pena, como se estivesse repensando seus atos. Desviou seus olhos de mim por um momento. E aí eu fiz o pior.
“Estava perto de algumas árvores, precisava me esconder. Comecei a me apoiar nos troncos, tentando sair de vista daquele monstro. Idiotice minha.
“Destino reergueu seus olhos, me encarou. Riu como se tudo fosse uma piada.
“-Você acha mesmo que pode fugir de mim?! – Ele gritava, suas palavras se misturando aos meus gemidos de dor, enquanto ele me puxava pelos cabelos, na direção do centro da clareira. Senti ele arrancando metade do meu couro cabeludo.
“Eu não tinha mais certeza do que ele fazia. Podia senti-lo quebrando minhas pernas com chutes, enquanto na verdade ele estava me dando socos de fúria.
“Já não sentia mais nada. Só sentia dor, agonia. Respirava medo. E suava. Um suor frio, que caia em minhas feridas e fazia arder.
“Não sei porque, mas Destino resolveu parar de me bater. Sentou-se ao lado do meu corpo jogado no chão, me protegendo do sol que começava a surgir por entre as folhas das árvores, e se pôs a falar. Falou sozinho durante um longo tempo.
“Começou falando de mim. Foi me relembrando de toda a minha vida. Minha vida mesmo Íris, antes de ser apenas mais um dos ‘mensageiros do Destino’, ou seja lá o que somos. Assassinos, loucos. Sado masoquistas, talvez.
“Ele falava tudo o que eu passei anos tentando apagar da minha mente. Lembrou-me de minha família. De minha mãe, que fazia de tudo para nos sustentar. De meu pai, doente. Lembrou-me de meus irmãos, ah!, meus irmãos. Lembrou-me de todas as nossas aventuras.
“Tudo aquilo era uma tortura maior. Me lembrar do que eu tinha perdido doía mais do que qualquer real machucado que eu tinha naquele momento. Minhas entranhas começaram a chorar, já que meus olhos não eram mais capazes disso.
“Só que Destino contava de uma forma diferente. Ele contava como se todos ainda estivessem vivos. E como se ele fosse eu.
“Contou toda a minha vida fazendo com que ela parecesse uma mentira. Mentira, Íris, pois parecia que ele que tinha vivido por mim, e eu era apenas o telespectador.
“Uma brisa quente passou. Eu não escutava mais nada, Destino tinha parado de falar. Pensei que estava sozinho, mas não tinha escutado passos se afastando. Hesitava até mesmo ao pensar, com medo de qualquer coisa me perceber ali. O tempo não queria passar, a dor continuava. Parecia que algo me cutucava com uma agulha, cada centímetro do meu corpo latejando.
“Fiquei lá, esticado, com dor, por um longo tempo. Estava esperando que aquilo passasse. Tentava relaxar meus músculos.
“Aí eu escutei vozes Íris. E não era só Destino. Tinha uma voz feminina também. Parecia carinhosa, me acalmava. Eu queria poder vê-la. Seguir com ela para onde quer que fosse. Ela ria muito.
“Acho que se não fosse a voz da mulher, eu entraria em desespero. Mas continuei no chão, sem me mexer, evitando respirar.
“Eles falavam rápido, sobre algo que eu não entendia. Destino falou sobre um homem, mas ela parecia não prestar atenção. Destino gritou com a mulher, e ela apenas riu. Falou que ele não aproveitava a vida. Quando ela falou isso, senti uma luz. Aquela mulher era a Vida, Íris. Tinha que ser.
“Destino resmungou mais um pouco, ela disse um horário. Ele concordou.
“A mulher continuou falando. Ela cantava. Mas sua voz foi se distanciando. Pensei que eles já tinham saído. Infelizmente, estava enganado. Destino ainda estava lá. Mas ficou pouco. Ficou o suficiente para me chutar nas costelas novamente, e sair, murmurrando alguns xingamentos.
“Aquilo doeu Íris, mais do que eu esperava. Mas eu tinha relaxado meu corpo, acho que a voz da mulher me ajudou.
“Fiquei deitado mais um tempo. Eu já não tinha mais pressa. Lembrei-me da voz, me senti bem. Com dor, mas bem. Eu precisava escutá-la de novo. Isso que me deu a força necessária para me arrastar de volta.
“Eu segui o rastro dos sussurros da mulher. Tentei sentir o cheiro de seu som. E senti que estava no caminho de casa. Não sei como, mas senti. E aí eu cheguei até você Íris. Eu consegui."
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Indico Last Of The English Roses, música de um ex-Libertines e ex da Kate Moss. Falo de Pete Doherty, com sua voz meio arrastada, olheiras, drogas e um som agradável a todos os gostos.

6 comentários:

Laís D. disse...

E o que dizer? Estou com medo de Nicolas, por íris. O Destino, para mim, que se dane. Só quero que íris encontre um modo de fugir desse lugar=p

J. disse...

íris, coitada. sem nicolas, não saberia o que fazer no lugar dela; :~
mas, enfim, como sempre, a história ficou incrível, parabéns :)
e sobre a música... voz arrastada, drogas, e ainda mais vindo de você, alice? não preciso nem baixar pra saber que vou a-mar (e, olha só, rimou :)

esdras disse...

Para onde vai essa história incrível?
Nicolas sofreu muito nas mãos de Destino.
Mas também foi ele quem registrou o sofrimento de todas aquelas pessoas que ele fotografou com a Polaroid.
Hoje achei ele sincero.

Mvtelles disse...

Saudações Tricolores!!!

Ana Marta disse...

fred nem cheGOL, só chego mesmo .
ahahahhahahhahah

Gabih, ou como preferir me chamar. disse...

amei. parei de postar no meu aliice. :\ mas coontinua a sua *-*