16.12.09

Um ano!

Ou quase um ano de blog. Na verdade, faltam 14 dias, mas não vou ter acesso a computadores por um tempo (viajar para o melhor de dois mundos: montanha e praia!), então vamos comemorar por agora.
Gostaria de agradecer a todos. Esse é o primeiro blog que levo realmente a sério. Os outros não duraram muito. Se querem saber, no meu primeiro blog eu falava sobre Harry Potter (isso há 5 anos atrás). Não durou 1 mês. No segundo, eu falava sobre minha convivência com meu irmão. Chamava 'como conviver com um irmão insuportável'. Era legal fazer ele, eu recebia uns pedidos desesperados de irmãos aflitos mas... não aguentei. Se durou 3 meses, foi muito.
Mas aqui, nas Maravilhas do Pais de Alice, foi tudo diferente. Primeiro, por mim. Eu estava (estou) numa época bem inspirada, em que eu sinto necessidade de escrever. Escrever é uma coisa tipo...respirar pra mim. Ok, não tanto, mas é algo bem importante. Depois, por vocês, seguidores, claro! E o suporte que várias pessoas me deram. Meu pai, que sempre tá lendo o blog e comentando. Minha mãe, que também lê bastante. Minhas tias. Meus amigos. Tem os outros blogueiros, como a LiLaís e o And, que eu conversava por msn e trocava algumas ideias. E os leitores e seguidores.
Gente, vocês não tem ideia da minha alegria ao chegar e ver um seguidor novo. Olha isso, quase 30! Os comentários também...me perdoem por não responder muito, mas é que eu vou no blog da pessoa e começo a ler, e de tanto que leio, acabo esquecendo de falar alguma coisa. Mas fiquem sabendo que todos os seguidores e comentadores já 'sofreram' uma visitinha minha, e já tiveram, pelo menos, um texto lido e apreciado.
Agora venho falar uma coisa muito especial: como 'presente' para o blog, resolvi fazer um vídeo e postar aqui. Mas não tenho ideias! Cantar uma musica? Ler um texto? Falar sobre mim? Falar sobre politica? São tantas opções...que elas somem e eu não acho nenhuma legal.
Por isso, quero que vocês me dêem dicas sobre o que falar no vídeo.
Meu Deus, UM ANO DE BLOG! Parabéns Alice, parabéns seguidores! Feliz Natal, prospero ano novo e que vocês tenham um 2010 maravilhoso, cheio de boas energias. Porque, se esse foi um ano incrível, foi porque tive pessoas boas ao meu lado, e vocês, leitores, fizeram sua parte.

Um beijo, espero as dicas.

9.12.09

Desapegada

O sótão: era escuro, úmido e com um pouco de mofo pelos cantos. Nas paredes, alguns desenhos infantis feitos com crayon. Era quase grande, cabiam quinze pessoas grandes, com conforto. Perto da escada tinham algumas caixas que se acumulavam com o tempo, guardando memorias de uma época em que eu ainda era feliz. Elas formavam uma parede de papelão que te impediam de ver o final do comodo, e, caso você quisesse vê-lo, teria de empurra-las até achar espaço para andar. Pois era o final dele que realmente importava. No chão, perto de uma pequena janela redonda, ficava Mesyne, enrolada em seus trapos negros esperando pela próxima visita. Ela tinha cabelos ruivos e olhos verdes, sempre com a mesma aparência jovial. Minha amiga.

Levantei cedo, antes mesmo do despertador tocar. A casa silenciosa e mesmo assim cheia de ruídos. Parecia que as paredes andavam falando de mim. Como se tivessem algo novo pra falar. Adoraria que me contassem alguma coisa.
A janela aberta mostrava uma manhã devagar, com o ar parado e frio. Nenhum passarinho cantando. Nada se mexendo. Menos eu. Fazendo o café, tirando um cigarro da bolsa. Saudável? Talvez, mas estamos em tempos difíceis. Tento me virar.
Jornal na mão, xícara fumegante à frente. O que fazer hoje? Toc, toc, toc. Tamborilo os dedos na mesa. Pego outro cigarro.

Odeio férias.

18.11.09

Resposta


Ela brilhava no escuro. Brilhava muito. Brilhava mesmo na luz do ténue sol de meio dia.

Ela era um livro aberto. Todos sabiam seus sentimentos bem antes dela. Menos ele, que se recusava a lê-la.

Ela perdera um longo tempo da vida amando-o. Abria o jogo, falava com todas as letras que o amava. E ele continuava sem entender.

Um dia, ele disse: "Também te amo". Ela se alegrou e se jogou em seus braços. Mas ele passou a perna nela, e demorou longos anos para aceitar tal amor.

Ela se entregou, ele continuava sem lê-la. Ela se abria, chorava, gritava, pedia ajuda a outras pessoas. Todos sabiam do desespero da menina! Menos ele.

E ele resolveu aceitar o amor, mas já era tarde demais. Ela acabou se enrolando, chamando-o por outro nome. O tempo que ele fizera ela esperar tinha sido longo, ela teve de se contentar com outros. Mas ele não aceitou.

"Você é o problema! Você odeia os outros! Seja feliz sozinha!" - disse ele, com amargura. Ela se entristeceu, mas ela também esqueceu.

Agora, ele diz que o velho eu dele morreu. Ela sente pena. O velho eu era um eu tão lindo, tão lindo...

4.11.09

Apelo


Em poucas palavras, gostaria de lhes dizer como ocorre a destruição de um sonho:


Ela vivia por aquilo desde sempre. E aquilo chegou tão perto dela, mais perto do que nunca. Ela esticou a mão e quase tocou. Mas aí veio uma mão maior e a puxou, dando várias desculpas e obrigando-a a manter distancia. Ela manteve distancia. Mas aquilo começou a distanciar, diminuir, só ela precisava mais que tudo. Com as poucas forças que lhe restavam, começou a arrancar as cordas que a prendiam. Outras mãos apareciam para empurra-la, enquanto ela encontrava novas mão para ajuda-la. O fim ela só podia imaginar. Imaginava abraçada com aquilo, chorando de alegria. Mas era só imaginação.

28.10.09

Quero

Carlos Drumond de Andrade





Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutosme digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser estade reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

20.10.09

A Ligação

Era terça à noite. Geralmente, ela sentaria à mesa e estudaria até seus olhos pedirem um descanso. Mas fazia uma semana que nada era como sempre foi.
Pegou o telefone, discou, desligou. O que falar? Não tinha ideia. Criou um diálogo na cabeça. “Oi, tudo bem? Então, é, bem, quer conversar? Não tenho muita coisa pra fazer.”.
O começo estava ótimo. A continuação era por conta da resposta dele. Sentou-se ereta, pegou o telefone e discou novamente.
“Alô?” – Era uma voz de mulher.
Ela não contava com isso. Mas respirou fundo e pediu que o chamasse.
“Oi, tudo bem? Então, é, bem, quer conversar? Não tenho muita coisa pra fazer”.
Sua preparação surtiu efeito e conversaram por horas. Se o assunto acabava, ele perguntava o que ela tava pensando - ah, como ela adorava essa pergunta - ela respondia e a conversa continuava.
“Mas então, o que você acha de mim?” - Ele perguntou, então, com um sorriso na voz.
Ela não sabia o que responder. As palavras a fugiam. Não sabia como dizer a ele que não havia melhor hora para ele entrar em sua vida, não sabia como dizer o tanto que ele a deixava feliz.
Soltou um “Ah...” que significava “Eu achava que nunca mais seria feliz assim, mas olha pra mim agora! Todo dia espero chegar de noite pra gente conversar”
“Ah...?”. Ele não entendeu. Ela repetiu. “Ah...”. Dessa vez significava “Como assim o que eu acho de você? É o cara mais fofo de fofo que eu já conheci, é bem mais do que especial pra mim.”.
Ele riu do outro lado da linha, “Tudo bem, depois você pode me falar.”
Ela ficou sem jeito, pensou em falar alguma coisa, mas não queria parecer uma idiota. Queria parecer uma idiota com um pouco mais de estilo. Estava inspirada.


- Se não está disposto a parecer um idiota, não merece se apaixonar.

6.10.09

Seres de Luz - Parte 1 de 2

Era uma noite escura e chuvosa. De manhã cedo o calor era intenso, o que fez com que Johanna descesse até a rua para aproveitar as gotas frias. As luzes acesas dos postes davam a tudo um ar fantasmagórico.
Johanna era alta e forte, com o corpo curvilíneo e a pele morena. Parou de pé na calçada, com os braços estendidos para o céu. A chuva molhava seu rosto e escorria-lhe pelos cabelos, colando-os nas costas.
Subiu meia hora depois, molhando o hall de entrada. Secou-se e se acomodou no sofá em frente à tv ligada. Pegou o cachorro, que tremia ao barulho dos trovões, e o acolheu perto de si, em meio as almofadas.
Foi a primeira vez que aconteceu. A luz da sala falhou, junto com a imagem da tv, que desligou segundos depois. Johanna pegou o controle e a ligou novamente. "Está chovendo", pensou. "É normal que a tv falhe numa chuva tão forte".
E a chuva piorava a cada minuto, batia na janela com a força de punhos. A luz falhou mais duas vezes. Eram 5 da tarde, e tudo se apagou.
Johanna não se importou muito. Deitou-se no sofá com o cachorro enrolado aos seus pés e dormiu.
Acordou uma hora depois de um sono pesado, embalado pela chuva. Com os olhos ainda colados, se arrastou até seu quarto para ligar o computador. Não ligava.
A casa já estava toda iluminada por velas. Uma na cozinha, onde Dona Santa trabalhava no jantar, uma no chão do corredor, uma no quarto de seu irmão doente e uma no banheiro.
Johanna não se deixou abalar. Sentou-se no chão do corredor e começou a brincar com a vela, colocando e tirando o dedo da chama para fazer uma dança de luzes e sombras. Depois, começou a fazer animais com as mãos, refletidos nas paredes. Por último, pegou a cera quente que escorri e fez mascaras para todos os seus dedos. Duas vezes. Ela começou a ficar tensa. Já era a segunda hora sem luz, e começava a ouvir vozes. Vozes nas paredes, no teto, no chão. Vozes saindo do fogo.
Começou a andar sozinha pela casa, batendo as mãos e falando alto. Quem quer que estivesse escondido, iria aparecer.

23.9.09

Uma breve ideia da vida

Peço-lhes licença para falar da vida. Dessa vez, não em uma cronica. Mas em uma historia que aconteceu comigo. Ah, a vida.
Passei dois anos de minha infância e pré-adolescência em Brasília. Era tudo lindo. Eu não ligava para minha aparência (graças a Deus, pois se ligasse nunca seria feliz) nem para a aparência dos outros, estudava numa escola pequena e tinha muitos amigos. A única coisa que me fez chorar lá foi a hora de ir embora.
Era como se tivesse um bolo delicioso na mesa que estava prestes a acabar, e eu tinha que comer, mas não podia. Ou como uma festa da qual eu não quisesse sair. Não, não era isso. Era como se eu estivesse deixando minha vida perfeita de lado e nunca mais a recuperasse.
Pois é, foi isso que aconteceu. Perdi minha vida perfeita. Voltei pra BH e passei um ano de inferno. Chorava muitos dias, sofria bullying na nova escola, ainda não tinha achado amigas... e meu refugio era Brasília. Sempre que eu podia, ia pra lá. Mas não era sempre, e acabei perdendo contato com meus amigos. Nada podia ficar pior.
No ano seguinte mudei de turma. Tudo apontava para uma tragédia. Teria de arrumar novas amigas, sofrer com outros bullys e aguentar a pressão pra passar de ano. Arrumei as amigas, não tinham mais bullys e passei de ano. Aí veio a questão aparência.
Chegava na adolescência com tudo. Espinhas, barriga, hormônios. Não gostava de mim mesma, e achava que os outros também não. Meninos, então, nem se fala. Minha vida social era na escola, e lá não tinha nenhum garoto que, digamos, 'prestasse'. Tentava ignorar isso com o máximo de bom humor, descontando no meu amor por musica.
Veio então 2009. Encontrei minha turma de amigos. Descobri meu estilo. Aprendi a cuidar das minhas notas. Achei também meninos. Sofri por eles, mas não posso dizer que não aproveitei.
Só que hoje, ao chegar em casa e ver que meu mais novo amor platonico estava namorando, não senti nada. Isso mesmo, nada. Nada daquela conhecida dorzinha no peito, que me dava vontade de gritar. Porque, finalmente, descobri que a vida é boa demais e curta demais para se reclamar dela.
Então, esqueci tudo de ruim que aconteceu comigo. Sou uma pessoa linda, uma pessoa feliz. Quero sentir novas musicas, ouvir novos sabores, experimentar novos amores.
Isso é um desabafo, de mim, para mim. Erika (sim, meu nome não é Alice), se liga! Para de conhecer homens pela Internet e investe naquele que tá do seu lado e te ama. Para de olhar fotos de modelos em revistas e seja feliz como você é! Perdoem-me os cliches mas...existe uma razão para eles serem cliches.
É isso. Vamos todos entender o que quer dizer uma 'vida muito curta, mais muito boa'. Vamos viver.

9.9.09

Fobia


A perna enfraquece. Pra andar, tenho que fazer aquela força mais forte que o mundo, mais forte que eu. Dou um passo. Pou! O pé se joga no chão, pedindo trégua. Mas continua, não tão firme e nem um pouco forte, na direção da forca.
Sento-me naquela cadeira grande. Me deito. Mas só deito porque me obrigaram. Olho para cima, uma luz forte, que me cega. Desvio o olhar. Do lado, uma mesa de metal com os instrumentos de tortura. Todos prateados, limpos e brilhantes, pontiagudos. Desvio o olhar novamente. Agora vejo o meu carrasco. Ironicamente, se veste de branco. A roupa, as luvas, a mascara, a touca.
Senta-se ao meu lado e sorri. Pergunta como estou enquanto abre a minha boca e enfia uma navalha entre meus dentes. Uma lágrima cai.
São 40 minutos que passam como horas, dias e noites, anos e três longas vidas. Demora a acabar. A dor não passa, a tremedeira não passa, o medo não passa... E não posso pedir socorro, ah se eu pudesse.
Me levanto da cadeira segurando um choro que, quando é autorizado a sair, nunca para. O Carrasco fala. Fala que terei de ir lá outras vezes. Para uma tortura pior. Colocar aparelho horrendo e que causa dor, preso em mim por dois longos anos. Em silencio, peço socorro.
Entro no carro correndo, começo a chorar lá dentro e só paro ao sentar aqui na frente, pois não consigo enxergar as teclas.
Tenho fobia. Não, não tenho, eles que são cruéis. Sim, tenho. Não. Sim. Socorro. Preciso de uma saída. Preciso de um socorro, preciso de fugir.

4.9.09

A Festa


Começou. Você se arruma toda, coloca aquele vestido caro e os sapatos desconfortáveis. Chega no lugar depois de todo mundo, sente um pouco de vertigem e costura aquele sorriso amarelo no rosto. Tem que sorrir. Passar uma boa imagem. Quase ninguém te conhece, ou até conhece, mas aquela meia garrafa que você bebeu duas horas antes faz com que todos tenham a mesma cara. Acha uma cadeira, se senta, tira os sapatos, os brincos, só não tira o vestido porque a avó a proibiu de ficar à vontade. “Não é pra você se sentir em casa, entendeu? Não me envergonhe.”. Começa o discurso. Você vê as bocas se mexendo, um som estranho sai de dentro delas, mas não consegue escutar nada. Um celular tocando. Pessoa mal educada, não deixa o celular no silencioso. Infelizmente, esse toque te pertence. Atende. Oi! Não, não, eu me esqueci, desculpa... O que, é pra amanha? Droga! Mas amanhã não era o teste? Xi, cara, tenho que desligar agora. Tem um bando de velho louco me encarando. A gente se fala. Você falou alto demais, como sempre, mas o discurso de 20 páginas do homenageado é mais importante, e alguns segundos depois já te esquecem. Tira da bolsa o gloss e começa a brincar. Pinta a mesa, os dedos, passa nos lábios e mata a fome com o gosto de morango falso. Alguém falou de um coquetel, não viu nenhum até agora. Ai, a fome. Garçon, me traz um copo d’água, por favor! Ah, não. Será que aquele homem era importante? Garçon não era. Acabou. Até que enfim. Toca o hino nacional. Aparece uma mulherzinha num salto agulha 15 e uma guitarra pra tocar. Caramba, que voz de igreja. Um hino nacional nunca demorou tanto pra acabar. Será que já acabou mesmo? Você procura um banheiro em todos os lugares, e nunca acha. Aparecem vários rostos conhecidos e desconhecidos. Bocas velhas de batom beijam o seu rosto. Aquele gordo com um bafo chega perto. Vamos fugir, por favor, não aguento mais. Acabou? Acabou! Chame um táxi, por favor. Ah, a premiação? Foi ótima! Mal posso esperar pela próxima.

22.8.09

A Declaração

"Matheus, meu Deus do céu, me desculpa. Logo naquela hora? Meu pai estava na porta, na porta! Eu estava esperando um beijo desde o momento em que entramos no cinema. Eu estava preparada. Aquela hora que a gente ficou junto, sabe? Sozinhos, naquele banco, olhando as estrelas. E você me abraçou. Foi tão lindo. E tudo o que eu mais quero é você. Dane-se a distância, DANE-SE. Eu te amo. Como melhor amigo ou como qualquer outra coisa que você queira ser. Eu não ligo, eu só quero estar perto de você. Só isso. Mas eu acho que você não quer. E eu peço desculpas, acho que te forcei, te assustei. Saiba que a Mel nunca me influenciou, NUNCA. Ela só me ajudou a aceitar um sentimento do qual eu tinha medo. Desde a sexta série! Eu nunca achei que você ia me querer, nem como amiga. Acho que não quer. O que será que você vê em mim? Eu estraguei tudo. TUDO! Não acredito. Sabe qual foi a primeira coisa que eu fiz ao sair do parque? ME ARREPENDER! Eu queria ter te abraçado mais. Te beijado. Nem que fosse só uma vez, só aquela última vez. Você devia ter me avisado! Que tinha medo que eu não te quisesse. Mas era você, ERA VOCÊ que não me queria. Porque eu to chorando?! Foi minha culpa. Minha culpa. Minha culpa. Minha culpa. Minha, minha, minha. Mentira. Foi sua, e eu sou idiota e fico me culpando. Fico me culpando pra achar que você gosta de mim e eu que estraguei tudo. Quer saber? Não te amo mais. Amanhã vou sair com o Guilherme...
Desculpa Matheus. Eu acho que te amo."
A droga do mistério do amor. Nunca consegui desvendar.

12.8.09

O Primeiro Conto de Alice


Com cabelos castanhos e manchas roxas sob os olhos, era Alice. Discreta e desinteressante à vista das outras pessoas. Vivia só, viva dormindo. Não vivia quando estava só, quando dormia, acordava para viver.
Durante o dia, Alice era triste. Cada minuto era uma batalha. Até o sol se por e a lua aparecer no céu. Até chegar a noite.
Entrava em casa correndo, jogava bolsa, mochila ou qualquer coisa que carregasse para os lados. Sem mesmo trocar a roupa, Alice se jogava na cama e dormia.
Assim que fechava os olhos, ela caia em um sono profundo, e logo sonhava. Sonhava primeiro com um céu cheio de estrelas. Ela andava sobre esse céu. Dava três passos para a esquerda, uma estrela à frente, outros dois passos à direita e mais cinco estrelas na direção do sol. Depois ela sonhava de novo, com um lugar novo, belo, onde ela era tudo. E então, ela não sonhava mais. Ela vivia em seu próprio mundo.
Mesmo com 16 anos, Alice não tinha amigos. Era uma velha em corpo de jovem. Lia muito, sabia demais e vivia com a cabeça em qualquer outro planeta, menos a Terra. A Terra era cruel.
Dia após dia, Alice esperava ansiosa a noite chegar. Não prestava atenção nos outros ao seu redor, apesar de sua vontade de ter alguém com quem dividir seu mundo noturno. Mas todos gozavam de sua sonolência, e ela aguentava. Até que seus colegas a fizeram chorar. De um modo frio, enviavam diariamente cartas para Alice. Ela as lia, respondia, e aguardava a próxima. Adorava ler as palavras do amigo anônimo. Alice começou a criar esperanças, alguém podia gostar dela! Mas não. No dia em que combinaram de se encontrar, a menina ficou horas esperando-o numa praça, e ao final do dia apenas viu os meninos de sua classe. Rindo. Aí ela chorou.
Chorou e correu para casa. Se deitou na cama e fechou os olhos com força, querendo ir logo para seu mundo, onde alguém poderia consolá-la, mas Alice errou o caminho.
A tristeza era muito, maior ainda era a pressa de chegar ao seu destino. Pouca era a concentração, e ela caiu no mundo errado.
Uma grande placa dizia “Terra do Nunca”. As letras pareciam tristes. Tudo parecia feito de pedra, nada se movia. Pessoas, plantas e até mesmo o ar parecia uma estátua.
Alice começou a andar pelo lugar, tentando entender alguma coisa, encontrar algum ser vivo. Andou por horas, passou por florestas cinza, cidades cinza, rios cinza. Tudo feito de pedra.
Viu belas paisagens, apesar da pouca (ou nenhuma) vida. Campos cheios de flores, animais correndo sem sair do lugar, casais sentados sobre a relva. E nada tinha movimento ou cor. Nem mesmo a lua, que continuava parada, como se olhasse na cara de Alice e dissesse:
-Menina só, menina tola. Procura algo vivo e rosada numa cidade cinza e morta. Como é tola, tola...
Alice tampou os ouvidos, procurando o silencio. A lua não parava da falar. Alice não queria ouvir. Queria sair daquele lugar, queria acordar logo. E... E se ela não acordasse!? Alice pensava, aflita. Tudo estava mais real do que sempre esteve. Tudo estava mais real do que durante o dia.
-Ei, ei menina, calma. Você ta gritando alto demais. Pode acordar alguém.
Ela arregalou os olhos. Por um instante, Alice se sentiu feliz. Uma pessoa falava com ela! Mas essa felicidade não durou muito. Assim que se virou, ela se deparou com um pequeno ser, mas não uma pessoa. Tinha olhos grandes e asas. Alice se assustou, recuou um pouco. Quem ou o que quer que aquilo fosse poderia fazer coisas horríveis com ela. Ela tinha medo.
-Quem é você? O que quer? – Alice falou com um fio de voz.
-Quem é você? O que quer? – Respondeu o ser.
Alice ficou quieta, não se atrevia a fazer mais nenhum som.
-Está bem, eu respondo primeiro. Sou Arya. Te vi e fiquei curiosa. Só. Sua vez.
Hesitando, a garota respondeu.
-Sou Alice, e quero saber o que exatamente é você, e o que exatamente é esse lugar.
-O que sou eu? Que bobagem. Sou uma fada, oras! Nunca viu uma de nós por aí? E este lugar – Disse a fada, gesticulado ao seu redor – É a terra do nunca.
Alice fez cara de confusa, imitada por Arya. A fada pareceu ler seus pensamentos, e se colocou a explicar o porquê das estátuas.
-Na verdade são pessoas. Sempre que a lua aparece no céu, todos devem voltar à pose original e assim ficar, até o sol nascer.
-E porque você não fica assim?
-Alice, não está prestando atenção no que digo? Sou uma fada. Alias a única por aqui. Essas coisas bobas não me influenciam, esse lugar me cansa.
Alice assentiu. A fada continuou a falar e Alice assentia. Não entendia muita coisa, mas assim que Arya se levantou e começou a andar Alice a seguiu.
Juntas, andaram por horas dentro de um bosque. A fada falava enquanto a menina concordava, sem realmente prestar atenção. Alice tinha uma fome voraz por aquela bizarra paisagem. Quanto mais andavam, mais ela queria ver. E tanto andaram que um raio de sol saiu por de trás da montanha e tocou um galho da mais alta e mais velha das árvores do bosque.
-Ah, ah... Venha cá, menina sem asas. Tenho que lhe dar uma coisa.
Arya empurrou Alice na direção do velho tronco, que estendeu um galho e deixou que uma pedra reluzente, meio molhada, caísse nas mãos da menina.
-Essa pedra... Essa pedra. Me esqueci. Perdão menina, perdão.
A árvore voltou ao cinza. O sol se pôs no horizonte. A fada sumiu. E Alice não acordou.

17.7.09

Perdido

“Eu perdi. Como assim o que eu perdi? O jardim não é, pois olhei pela janela hoje de manha e lá estava ele... O ar, o ar! Será que perdi meu ar? Não consigo vê-lo! Ah, claro, não da pra perder o ar, me desculpa. Mas sei que perdi algo. Vamos, me ajude. A casa também não perdi. Pintei ela de roxo semana passada. É a única casa roxa no bloco. Todos os moveis também estão lá dentro...Os sapatos! Não estão no meu armário. Ah, droga, perdi meus sapatos. O que vou fazer sem eles...Pare de me interromper! O que foi dessa vez? Ah sim, os sapatos estão no meu pé, obrigado. O que perdi então? A namorada? Não, já faz mais de ano que não a vejo. Saiu para comprar meu maço de cigarro e nunca mais voltou. Já sei, perdi me cigarro! Mas isso não é tão importante. Vamos, me deixe dar um trago. E quero um copo de Whisky. Tem um Johnny Walker no armário, dos bons, pode pegar. Como não tem? Tem que ter! Eu perdi meu Whisky? E o danado era caro... se bem que não, acho que ele acabou mesmo. Porque está indo embora moça, ainda não achei o que eu perdi! Espere um momento... achei sim. Achei a minha vida.”

No dia seguinte, Seu Zé fumou charuto molhado no melhor whisky, arrumou vinte novas namoradas e cuidou de seu jardim. Vendeu a casa e comprou uma maior. Achou a vida que tinha perdido. E logo depois, por falta de graça, depressão ou até mesmo uma embriaguez, trocou a vida pela morte.

“Valia mais a pena”

13.7.09

Selos !

Ganhei tres selos há um tempinho atras .. hora de coloca-los aqui !





Regrinhas:
1)Falar o blog que te mandou:http://www.putzferrou.blogspot.com/ - Garota de all star ( muuuuito obrigada !)2) Responder as perguntas:
a) Falar cinco coisas que você JÁ mordeu:1- a Julênha 2 - Borracha 3 - O computador (não perguntou porque) 4 - O telefone 5 - O celularb)5 coisas que você NUNCA moderia: 1 - Meu cachorro 2 - Abacate 3 - Frutas de cera 4 - Cabelo 5 – Batom
c)5 coisas que você QUER morder:1 - Brendon Urie 2 - Rick Martin 3 - O burro 4 - Um colchonete 5- Nesse instante, um sushi
3) Repassar para 3 blogs:
http://www.sorvete-de-picles.blogspot.com/ - Caindo da arvore
http://www.refugiolilais.blogspot.com/ - Refugio LiLaís
http://www.pedacodeumcoracaoaleatorio.blogspot.com/ – Rabiscos


Regras do Seu blog é Roxie! a-d-o-r-e-i!:1ª- Exibir a imagem do selo "Seu blog é ROXIE!" e escrever essas regras abaixo dele.2ª- Colocar quem te deu o selo nos seus blogs indicados (amigos).3ª- Escrever 5 coisas que são ROXIE (1ª sobre música, 2ª sobre televisão e cinema, 3ª três países que gostaria de conhecer, 4ª três cores favoritas e 5ª três hobbies)4ª- Indicar 10 blogs que você ache ROXIE.5ª- Avise a pessoa que você indicou, deixando um comentário para ela

- Adoro músicas de bandas desconhecidas e conhecidas que exageram nos trabalhos com orquestras. Um exemplo: Beirut.
- Faz um super tempo que não assisto TV, tirando CSI (que é uma das melhores séries que tem). Quanto aos filmes, ultimamente tenho ido muito ao cinema, mas o que eu mais gostei nos últimos tempos eu assisti no DVD: Across the Universe, com a trilha do Beatles.
- Inglaterra, Suíça e... Nova Zelândia
- Verde, verde e verde!
- Ler, conversar e ouvir musica.

http://www.ateasduas.blogspot.com/ ; http://www.folhadotedio.blogspot.com/ ; http://www.maybememoriiies.blogspot.com/ ;
http://www.umsolmaisfrio.blogspot.com/ ; http://www.capitch.blogspot.com/ ; http://www.ahoraandnow.blogspot.com/ ; http://www.omundodeanablogs.blogspot.com/ ; http://www.naminhaprateleira.blogspot.com/ ; www.cronicasdeumvazio.blogspot.com ; http://www.perguntasociosas.blogspot.com/

Regras: 1. Colocar o link de quem te indicou pro meme. 2. Escrever estas 5 regras antes do seu meme pra deixar a brincadeira mais clara. 3. Contar os 6 fatos aleatórios sobre você . 4. Indicar 6 blogueiros pra continuar a brincadeira. 5. Avisar para esses blogueiros que eles foram indicados.

1 – Não, não vou ter filhos
2 – Conheço o Zeca Camargo
3 – Amo uma Drag Queen
5 – Adoro dançar de um jeito que ninguém dança
6 – Odeio que fiquem roçando em mim.

http://www.maybememoriiies.blogspot.com/ ; www.cronicasdeumvazio.blogspot.com ; www.sorvete-de-picles.blogspot.com ; http://www.pedacodeumcoracaoaleatorio.blogspot.com/ ; http://www.refugiolilais.blogspot.com/ ; http://www.umsolmaisfrio.blogspot.com/

Pelos dois ultimos selos, obrigada Lais ! (LiLaís)


Purgatório

Ele tinha morrido. Como não ter morrido? Ninguém vivo poderia sentir tanta dor de cabeça. Se sentisse, morreria. E estando morto, não sentiria mais nada. Então, porque raios a cabeça dele ainda doía tanto?!O purgatório. Era lá que ele devia estar. Certamente não iria para o céu, mas não se lembrava de nada que o levasse diretamente para o inferno. Se bem que ele gostaria de ir pro inferno. Kurt Cobain não estaria no paraíso, for sure. Mas quem disse que o inferno não era o paraíso? Essas coisas de tortura devem ser só intriga da concorrencia.A cabeça ainda doía. E agora que ele pensava, doía ainda mais. Doía tanto que ele começou a ver coisas. Ah! , se lembrou. Não estava no purgatório, ele não acreditava em Deus, no Demonio ou em vida após a morte. Acreditava em Kurt Cobain. Não devia estar no purgatório, ele estava era em coma. Mas e se o coma fosse parte do seu julgamento? Ele não acreditava em purgatório, devia ser só uma coma mesmo.Mentira. Agora ele se lembrava de tudo. Era só mais uma ressaca na manhã de segunda-feira.

31.5.09

Quebra-Cabeça - Cap. 14


Quando Nicolas terminou de contar sua historia, eu já estava seca e vestindo uma roupa nova. Não que a historia em si fosse muito longa, mas ele a contou devagar, escolhendo as palavras. Parecia que ele sentia na pele tudo o que contava.
Sai do pequeno quarto e vi Nicolas no chão. Ele estava sentado, meio encolhido. Parecia uma criança perdida e cansada, que não tinha mais forças para correr procurando pela mãe.
-Venha Nicolas, levante-se. Você é forte. Mais forte que Destino. Podemos ganhar desse babaca... Só precisamos de um pouco de tempo.
Ele olhou pra mim sem muita confiança. Minhas palavras soaram falsas até mesmo para os meus ouvidos, mas eu acreditava nelas. Acreditava que, algum dia, conseguiria me livrar de Destino.
-Você está certa.
Nicolas disse isso decidido, o que me assustou um pouco. Parecia que ele realmente tinha acreditado no que eu dissera.
-Claro que irá demorar um pouco, e você terá que fazer o que ele mandar por certo tempo. Mas no final conseguiremos Íris. Juntos!
Quando ele terminou de falar, percebi que eu mesma estava me convencendo disso. Destino nos subestimava. Éramos muito mais fortes do que ele pensava.
-Destino deixou as primeiras instruções para você. – Nicolas não estava perguntando, mas, da mesma forma, assenti. – Certo, então iremos cumpri-la.
-Não.
Ele me olhou assustado.
-Não, Nicolas, eu irei. Você não pode me ajudar. Não dessa vez.
Ele olhou para ao chão, sério. Pensei que iria contestar. Falar que eu não era capaz de fazer isso sozinha.
-Está certo então. – Ele se levantou. – Vamos.
Nicolas andou até a porta da casa. Demorei alguns segundos, mas acabei fazendo o mesmo. Parei na entrada, ao seu lado. Ele me olhou e deu um longo suspiro. Abriu a porta e me puxou pela mão sala adentro.
A adaga, a foto e o quadro de horários ainda estavam no chão. Ironicamente, pensei que aquilo podia se comparar às armas do crime sendo esquecidas ao lado do corpo falecido, ou algo do tipo. Tudo parecia estranhamente mortal.
Nos sentamos, Nicolas estudando o quadro de horários. Enquanto lia o pequeno papel, ele fazia algo que eu amava: ia trocando de expressões. Ele se tornava apreensivo, triste, tenso, mal, como se trocasse de mascaras. Tudo isso lendo apenas os compromissos de um homem. Me fascinava.
-Droga Íris, é amanha. Teremos que fazer tudo muito rápido.
No momento em que Destino me entregou o papel, estava tão eufórica que não fui capaz de olhar a data. Puxei-o da mão de Nicolas e soltei um gemido de desespero.
Era no dia seguinte.
Olhei para ele, pedindo socorro. Eu não ia conseguir. Não dava. Tinha menos de 24 horas para me preparar, e ainda não tinha nem ideia do que preparar. Minha cabeça começou a doer, meus olhos ardiam. Eu não estava me aguentando dentro de mim.
-Íris, ÍRIS! Respira, caramba. Você tava começando a ficar vermelha. Não se desespera, ok? Eu te dou umas dicas, você realmente tem que fazer essas coisas sozinha. Agora vem cá, toma um copo d’água, e eu vou te explicar o que você tem que fazer. Ah, e vá se trocar, você precisa chamar menos atenção, vá vestir uma roupa preta, não sei.
Olhei para Nicolas e me levantei, relutante. Bebi a água rápido de mais, provocando soluços indesejáveis. Enchi o copo novamente, bebendo mais devagar na segunda vez.
Fechei os olhos e relaxei os todos os músculos do corpo. O mundo não estava acabando. Eu ainda tinha tempo. Eu tenho tempo. E vou aproveita-lo.
Abri os olhos mais segura. Nada podia dar errado.
Corri para o quarto para me trocar. Nicolas estava certo, uma assassina com um vestido amarelo seria meio ridícula. Peguei um moletom preto, jogado no chão, e o vesti junto com um par de jeans. Parecia mais uma mendiga do que assassina, mas acho que isso era parte do papel.
Em silencio, voltei para a sala. Nicolas estava olhando a adaga em silencio. Sorria enquanto alisava a arma com os dedos. Parecia se lembrar de uma piada antiga, de historias de família que guardamos para os netos. Ele sorria um sorriso que parecia velho, coberto de teias.
-Nicolas?
Ele se virou calmamente, me olhando nos olhos.
-Puxa, demorou hein. Vamos logo. Vai ser tudo bem fácil, no caminho te conto o que irá fazer.
Nicolas ia falando ao mesmo tempo em que colocava algumas coisas dentro de uma sacola, eu o observava, me perguntando se algum dia iria entendê-lo.
-Venha logo Íris! – Nicolas me gritava, já do lado de fora de casa.
Andei devagar. Cruzei a porta e olhei para a bicicleta. O céu estava escuro, devia ser quase meia noite. Estremeci. Não só pelo frio. Estremeci por tudo. O desconhecido me assustava.
Assim que subi na garupa da bicicleta, tentei ter uma ideia geral do que iria acontecer. Mas o futuro parecia mais com um quebra cabeça de mil peças, e todas elas desconhecidas para mim.
Borboletas se agitavam no meu estômago. Abracei Nicolas com força.
-Estou com medo.
-Não tenha medo – Ele me respondeu. – Nada vai dar errado.
Ele estava tão confiante. Eu pensava que, após aquela surra de Destino, Nicolas se tornaria um fracote covarde, mas não. Ele estava mais forte. Mais confiante. Uma nova fonte de energia jorrava sobre ele, que parecia emanar uma luz de tranquilidade e segurança.
Lembrei-me da mulher que ele escutara a voz. A tal ‘Vida’. Eu tinha pensado que era só imaginação dele. Só que Nicolas estava insanamente diferente. Aquela historia da ‘voz revigorante’ devia ser verdadeira.
Fechei meus olhos com força. Tinha que parar de pensar de mais. Tinha que me focar no que estava prestes a acontecer.
Respirei fundo e me lembrei dos meus meses de falso treinamento, imaginando se ainda sabia manipular uma arma.
Cerrei os punhos e respirei fundo. Nada vai dar errado.
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Indico John Meyer. Comprei um CD mais antigo dele há pouco tempo, mas é super legal. A música Your Body Is A Wonderland é ótima. No violão e com letras meio melosas, Meyer detona.

26.5.09

Post de Aniversário

Não aniversário do blog. O meu!
Bem, venho aqui pedir desculpas por demorar para postar o proximo capitulo, mas também para avisar que criei um novo blog: o festanalaje.blogspot.com
Sendo assim, este ficará especialmente para a postagem de minha historia, enquanto no outro vou falar sobre outras tantas coisas.
Grande abraço, e parabéns pra mim !

9.5.09

Gritos de Agonia - Cap.13

-Eu comecei a gritar. A gritar muito. Ele agarrou meus ombros, cravando suas unhas sujas em minha pele, me rasgando, chegando a minha carne. Ele me puxava.
“-Eu tive que passar por isso, Nicolas! Passei por coisas muito piores! - Ele dizia, enquanto me levantava e me encostava em uma árvore. Me fazia encará-lo, mas eu não conseguia. Minha mente estava bagunçada, minha visão estava turva. Ele começou a bater no meu rosto.
“Me chamou de rebelde de novo, mas eu não conseguia nem mesmo perguntar o porque. Minha boca estava cheia de sangue. Eu já não enxergava mais nada, Íris. Só escutava. Escutava meus músculos gritando por piedade, berrando enquanto eram mutilados.
“Por um breve momento, Destino me olhou como se tivesse pena, como se estivesse repensando seus atos. Desviou seus olhos de mim por um momento. E aí eu fiz o pior.
“Estava perto de algumas árvores, precisava me esconder. Comecei a me apoiar nos troncos, tentando sair de vista daquele monstro. Idiotice minha.
“Destino reergueu seus olhos, me encarou. Riu como se tudo fosse uma piada.
“-Você acha mesmo que pode fugir de mim?! – Ele gritava, suas palavras se misturando aos meus gemidos de dor, enquanto ele me puxava pelos cabelos, na direção do centro da clareira. Senti ele arrancando metade do meu couro cabeludo.
“Eu não tinha mais certeza do que ele fazia. Podia senti-lo quebrando minhas pernas com chutes, enquanto na verdade ele estava me dando socos de fúria.
“Já não sentia mais nada. Só sentia dor, agonia. Respirava medo. E suava. Um suor frio, que caia em minhas feridas e fazia arder.
“Não sei porque, mas Destino resolveu parar de me bater. Sentou-se ao lado do meu corpo jogado no chão, me protegendo do sol que começava a surgir por entre as folhas das árvores, e se pôs a falar. Falou sozinho durante um longo tempo.
“Começou falando de mim. Foi me relembrando de toda a minha vida. Minha vida mesmo Íris, antes de ser apenas mais um dos ‘mensageiros do Destino’, ou seja lá o que somos. Assassinos, loucos. Sado masoquistas, talvez.
“Ele falava tudo o que eu passei anos tentando apagar da minha mente. Lembrou-me de minha família. De minha mãe, que fazia de tudo para nos sustentar. De meu pai, doente. Lembrou-me de meus irmãos, ah!, meus irmãos. Lembrou-me de todas as nossas aventuras.
“Tudo aquilo era uma tortura maior. Me lembrar do que eu tinha perdido doía mais do que qualquer real machucado que eu tinha naquele momento. Minhas entranhas começaram a chorar, já que meus olhos não eram mais capazes disso.
“Só que Destino contava de uma forma diferente. Ele contava como se todos ainda estivessem vivos. E como se ele fosse eu.
“Contou toda a minha vida fazendo com que ela parecesse uma mentira. Mentira, Íris, pois parecia que ele que tinha vivido por mim, e eu era apenas o telespectador.
“Uma brisa quente passou. Eu não escutava mais nada, Destino tinha parado de falar. Pensei que estava sozinho, mas não tinha escutado passos se afastando. Hesitava até mesmo ao pensar, com medo de qualquer coisa me perceber ali. O tempo não queria passar, a dor continuava. Parecia que algo me cutucava com uma agulha, cada centímetro do meu corpo latejando.
“Fiquei lá, esticado, com dor, por um longo tempo. Estava esperando que aquilo passasse. Tentava relaxar meus músculos.
“Aí eu escutei vozes Íris. E não era só Destino. Tinha uma voz feminina também. Parecia carinhosa, me acalmava. Eu queria poder vê-la. Seguir com ela para onde quer que fosse. Ela ria muito.
“Acho que se não fosse a voz da mulher, eu entraria em desespero. Mas continuei no chão, sem me mexer, evitando respirar.
“Eles falavam rápido, sobre algo que eu não entendia. Destino falou sobre um homem, mas ela parecia não prestar atenção. Destino gritou com a mulher, e ela apenas riu. Falou que ele não aproveitava a vida. Quando ela falou isso, senti uma luz. Aquela mulher era a Vida, Íris. Tinha que ser.
“Destino resmungou mais um pouco, ela disse um horário. Ele concordou.
“A mulher continuou falando. Ela cantava. Mas sua voz foi se distanciando. Pensei que eles já tinham saído. Infelizmente, estava enganado. Destino ainda estava lá. Mas ficou pouco. Ficou o suficiente para me chutar nas costelas novamente, e sair, murmurrando alguns xingamentos.
“Aquilo doeu Íris, mais do que eu esperava. Mas eu tinha relaxado meu corpo, acho que a voz da mulher me ajudou.
“Fiquei deitado mais um tempo. Eu já não tinha mais pressa. Lembrei-me da voz, me senti bem. Com dor, mas bem. Eu precisava escutá-la de novo. Isso que me deu a força necessária para me arrastar de volta.
“Eu segui o rastro dos sussurros da mulher. Tentei sentir o cheiro de seu som. E senti que estava no caminho de casa. Não sei como, mas senti. E aí eu cheguei até você Íris. Eu consegui."
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Indico Last Of The English Roses, música de um ex-Libertines e ex da Kate Moss. Falo de Pete Doherty, com sua voz meio arrastada, olheiras, drogas e um som agradável a todos os gostos.

28.4.09

"Como papel e pedra" - Cap. 12


Nicolas ganhou de mim três vezes. Eu ganhei cinco.
Eu não sabia o nome do jogo. Tínhamos que acertar a bola em um alvo, correr com ela nas mãos, pular, desviar e desarmar o outro. Parecia uma luta dançada. Ou uma dança lutada. E eu era boa nisso.
Nicolas fechou a cara e se dirigiu para a ducha nos fundos da casa. Disse que ia tomar um banho para se refrescar, que estava suado. Mas eu sabia que não era isso. Não completamente isso. Sabia que ele odiava perder, que precisava relaxar. Homens.
Ele saiu e eu fiquei parada. De pé, tentei esperar o tempo passar. Mas eu precisava me mexer.
Acabei me convencendo de que toda a energia de Nicolas tinha passado para mim. Corri mais um pouco, tentei alcançar os últimos raios do sol que se punha. Queria guardá-los só pra mim. Mas quando abri as mãos, apenas estrelas escorriam pelos meus dedos.
Voltei para casa vestindo minhas roupas encharcadas de suor e um cheiro horrível. Sem pensar se Nicolas ainda estava lá, corri para a ducha. Nunca precisei tanto de um banho.
Comecei a me despir antes mesmo de chegar aos fundos. Pretendia me deixar de molho até o dia seguinte, e minhas roupas por mais outross três.
Já estava com metade do corpo a mostra.
-Não temos mais nenhum pudor nessa casa? –Escutei sua voz rouca às minhas costas, em meio a leves risadas que inutilmente tentava esconder. Eu conseguia ver a cara de Nicolas falando isso, não precisava me virar para ter certeza. Mas me virei.
Ele olhou para mim com os olhos arregalados. Fez cara de crianças, fingiu se esconder e depois abriu um de seus mais belos sorrisos. E tentou me abraçar.
Desviei. Nicolas estava só de toalha. E eu não gostava de pessoas me tocando. Inclusive quando eu não vestia nada.
-Saia da minha frente Nicolas, preciso de água. –Falei, enquanto o empurrava para o lado, tentando entrar no pequeno quarto com o chuveiro.
Fechei a porta com pressa, tranquei-a e corri para o banho.
A água estava gelada. As gotas caiam curiosas em minha pele, me cortavam com a baixa temperatura.
-Não vai querer saber minha historinha? Ou o trato já esta desfeito e você jogou sem querer algo em troca? Aposto que está morrendo de curiosidade.
Eu queria saber. Eu estava louca, morta, com um universo e meio de curiosidade de remexendo dentro de mim. Não queria que Nicolas percebesse.
-Claro que quero saber.
Ele estava do outro lado da porta. Devia estar forçando a fechadura para entrar, eu tinha certeza de que ele não gostaria de ficar do lado de fora. Não queria que ele entrasse. Poderia contar de onde estava.
-Não vai abrir a porta?
-Não. Conte-me de onde está. E ande logo, conte enquanto estou de pé, pois já já me deito.
-Já que quer assim... –Ouvi passos se distanciando. Como era sacana.
-Pare de suspense Nicolas. Sei que ainda está com a orelha colada na porta.
Ele soltou um palavrão abafado e depois riu alto para disfarçar.
-Vejo que está cada vez mais esperta, querida Íris. Acredito que grande parte dessa esperteza seja de minha influencia.
-Sendo sua ou não, não ligo. Apenas me conte o que aconteceu.
-Está bem. Mas antes eu arrumaria algum lugar para sentar. Você está prestes a ouvir uma longa historia. Cuidado com os pesadelos, minha pequena.
Sentei no chão, sob a água. As gotas quicavam em meus ombros, molhavam meu cabelo. Faziam um som infantil. As palavras se derretiam, amargamente doces. Eu chegava a sentir o gosto. Adorava historias.
-Destino chegou cedo hoje, bem antes de você acordar. Ainda havia lua no céu - Assim Nicolas começou, narrando cuidadosamente sua historia.
-Quando abri os olhos, acordado por um frio repentino, vi seu vulto negro sentado no chão. Demorei para levantar-me, pois você me abraçava, e eu não queria te acordar. Mas como você me segurava forte! Levantei-me e fui em direção de Destino. O ar chegava a fazer mais barulho que nossas vozes em meio a uma conversa.
“Em um momento, quase começamos a gritar. Destino e eu não nos entendemos muito bem, devíamos estar discutindo por alguma bobagem. Tão bobagem que nem me lembro agora. Quando começamos a levantar a voz, ele me segurou pelo braço e me puxou para fora da casa. O ar me cortava. Andamos durante bastante tempo, rumo à uma floresta. Destinou usou um caminho difícil, dando voltas e andando rápido, fazendo com que eu não me lembrasse de como voltar.”
-Então você não foi dar uma volta?
-Deixe-me terminar, Íris!
“Certo. Bem, depois de tanto andar, acabamos chegando a uma clareira na floresta. Destino me olhou com ódio, e me bateu uma primeira vez.
“Sempre imaginei Destino como um velho. Mas seus punhos eram duros como aço, e estavam mais frios do que a noite, me cortavam. Ardiam e queimavam. Nunca um soco doeu tanto. E era uma dor que não acabava.
“Começou um longo sermão. Destino adora falar, adora que prestem atenção em suas palavras difíceis e em seus enigmas.
“Primeiro ele me disse coisas sem sentido, sobre leis, contratos, acordos. Falou que eu estava contra tudo e todos, que eu era um rebelde. Eu não entendia nada. As palavras não faziam sentido, e eu ainda estava tonto de dor.
“Foi então que olhei diretamente para Destino, e prestei atenção em sua figura.
“Ele estava sem capa Íris, sem nada. Eu pude ver seu corpo branco e enrugado. A pele fina, como papel. Eu podia jurar que, com o minimo movimento, ele se ragaria. Mas ainda assim parecia esculpido em pedra.
“Destino me olhou, mas eu já não prestava atenção. Me bateu novamente, eu sentia mais dor. Parecia que Destino ia arrancar meus braços.”

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Não sei como ainda não indiquei Beirut. É um estilo meio folclorico e muito alternativo. Vale escutar Nantes e Elephunt Gun.

20.4.09

Corrida - Cap. 11


Fiquei parada por um longo tempo, estática. Pálida. Não estava conseguindo digerir as novas instruções de Destino.
Peguei a foto e o quadro de horários no chão. A adaga podia ficar lá, não queria tocar nela tão cedo.
Observei a imagem do homem em minhas mãos. Ele continuava tristemente feliz. Eu estava com pena dele. Ele não tinha nem ideia do que iria acontecer.
Como eu gostaria de ser outra pessoa. Ou de ser alguém a mais, ser duas pessoas. Aí poderia lutar comigo mesma. Impedir que meu primeiro eu matasse.
Mas isso era complicado demais.
Desviei minha atenção para o outro pedaço de papel. Era um quadro de horários comum, lembrava aqueles de escola. Havia a hora de ler jornal, o almoço, pegar o filho na escola. Assim se seguia, até as 11 da noite.
Às 11 da noite estava escrito morte.
Ouvi passos do lado de fora da casa. Não passos, era mais um rastejar. Parecia um animal. Mas o som era muito alto para ser um animal.
Quem poderia ser? Ninguém ia até aquela casa, mas nenhuma pessoa anda como um animal. E Nicolas tinha ido dar uma volta, como Destino disse.
Peguei a adaga no chão.
Andei em silencio até a porta. Nem mesmo eu consegui escutar meus passos.
Eu estava começando a sentir medo. O barulho chegava cada vez mais perto. Abri a porta.
Era Nicolas. Um Nicolas quase que irreconhecível.
Ele estava com o rosto coberto de sangue, inchado e roxo. Os braços arranhados e uma perna quebrada. Pelo menos eu não me lembro de ter visto pernas viradas de uma forma tão estranha.
Corri até ele para ajudá-lo. Cada vez que eu tentava levantá-lo, ele gemia de dor.
Carreguei-o até dentro da casa. Uma trilha de sangue nos seguia.
Deitei Nicolas no chão e me pus a pensar. Não tinha ideia do que fazer naquele momento.
Não tínhamos telefone, e demoraria até chegar a cidade.
Além disso, já não éramos completamente humanos. Então os médicos poderiam achar algo estranho no corpo dele, e nenhuma mentira vinha a minha mente para confundi-los.
-Então Nicolas, o que vamos fazer agora?
Eu não esperava resposta. Era uma pergunta retórica. Mas, mesmo assim, Nicolas respondeu.
-Me de água, só isso.
Entre gemidos, ele formou a frase. Achei incrível eu ter conseguido entender aquela serie de grunhidos.
-Ande logo Íris!
Me levantei e corri ate a cozinha. Peguei o ultimo jarro de água fria. Essa coisa de viver longe de supermercados era trabalhosa.
Corri para Nicolas e coloquei o jarro em suas mãos. Ele estava tentando se levantar.
-Agora saia.
Ele disse assim, curto e grosso. Mas não o contestei. Ele estava machucado, com dores. E de mal humor.
Sai da casa devagar. Ainda esperava que ele mudasse de ideia e me pedisse ajuda.
Mas ele não pediu. E assim que eu fechei a porta, ele começou a gemer mais alto. Chegou a gritar de dor. Mas isso não durou nem um minuto.
Assim que a tortura parou, a porta se abriu e ali estava Nicolas, alto, belo, forte e sem cicatrizes, como sempre.
-Você ta... Ótimo!
-É. Essa coisa com o Destino até que tem seus pontos positivos.
Minha língua coçava. Eu estava louca para saber o que realmente tinha acontecido. Mas ele não queria contar. Eu não tinha perguntado, mas se eu tivesse me machucado daquela forma, acho que não gostaria de contar os detalhes para um curioso alheio.
Ele parecia estar feliz com o ‘sucesso’ de sua recuperação.
Assim que passou por mim, começou a correr. Correu rápido, correu pulando, correu de costas, me olhando.
-Então, Íris, estamos muito parados. Vamos dar uma volta hoje, que tal? Jogar bola, correr?
Mais um louco para minha vida. Nicolas devia estar pirando. Há 5 minutos, ele estava jorrando sangue por cada centímetro do seu corpo. Agora estava assim, normal, e com mais energia que nunca.
-Certo. Podemos jogar bola. Mas-
-Mas o que?
-Mas depois você terá de me contar o que aconteceu com você.
-Tá bem. Pegue uma bola dentro de casa. E prepare-se para perder.
Ele deu uma risada sonora. E começou a correr novamente.
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Indico Keane. Os caras fizeram um show no Brasil mes passado e tem uma presença de palco incrivel. A musica tambem é legal. As que eu mais gosto são Pretend That You're Alone e Perfect Symmetry.

13.4.09

'Ser brega é bom' - Cap. 10


Dormimos juntos naquela noite. É certo que sempre dormíamos juntos. Porém, dessa vez havia um sentimento. E eu gostava daquele sentimento. Não o sentia desde Zach.
Acordei com o sol entrando pelas frestas da porta. As janelas estavam vedadas por pesados tapetes, velhos e empoeirados. A luz era forte, e o vento era frio. Me estiquei para abraçar Nicolas.
-Nicolas?!
Ele não estava lá. Não liguei. Estava cansada e precisava dormir.
-Bom dia raio de sol. Não vai se levantar?
Sorri, pois parecia Nicolas falando. Depois meu coração disparou, parecia que ele estava prestes a sair pela minha boca. Levantei-me num pulo.
-Destino? Demorou um pouco demais, não acha? – Minha voz parecia arranhada, eu fazia força para ela sair com naturalidade.
-Me demorei, sim. Mas demorei porque você não fez o que eu mandei. Esperava que uma hora caísse a ficha e você começasse a treinar, mas vejo que não.
Como sempre, Destino estava envolto em seu manto preto. Eu odiava aquele pano.
Era sujo, fedia. Parecia que ele nunca o tirava, que nunca usava algo novo.
Mas dessa vez sim. Ele carregava uma bolsa de lona, verde, velha. Estava meio vazia. Fiquei curiosa.
Destino me olhou com uma cara estranha, de quem estava com muita pressa. Demorei para entender, mas como se passarinhos e borboletas tivessem soprado em meu ouvido, percebi que ele queria que eu me arrumasse.
Corri para um pequeno quarto que tinha a porta meio escondida por alguns caixotes e remexi nas maletas de roupa que Nicolas tinha trazido no dia anterior.
Haviam muitas peças estranhas, diferentes. Algumas mais retrôs, outras roupas mais futurístas. Todas com muitos fios e panos, complicadas de se vestir. Acabei escolhendo uma calça de veludo vinho e uma blusa preta, cheia de babados. É bom ser brega às vezes. Corri para a sala.
Destino já tinha se acomodado. Sentara no chão frio , sem ligar muito. Jogara a bolsa de lado, fazendo com que algumas pastas e vários papeis ficassem visíveis.
Sentei-me na frente dele, encarando-o.
-Não vou ficar enrolando. Dessa vez tenho pressa, você me fez esperar demais. Já se passaram 4 meses desde as primeiras instruções, e eu geralmente não demoro tanto.
Ele remexeu na bolsa e pegou a foto de um homem.
Ele era mais velho, lá pela casa dos 50. Tinha o rosto marcado, os olhos sábios. Estava sorrindo. Porém, os cantos de sua boca eram virados para baixo, o que fazia com que, mesmo sorrindo, ele parecesse triste.
Parecia que ele estava sofrendo. E muito.
-Este é Joannes.
Destino só estava me dizendo o nome do homem, só isso. Ele não queria que eu fizesse o que eu estava pensando, não queria. Era só minha imaginação.
Destino retirou uma adaga de dentro da bolsa. Era longa, brilhante, parecia que tinha sede de sangue. Chegava a ser bonita.
-E esta –ele girou a arma nos dedos -é adaga que você irá usar para matá-lo.
Era o que eu pensava. Porcaria.
Eu queria esquecer aquelas instruções e fingir que nada tinha acontecido. Minha cabeça se perdeu em um mar de pensamentos confusos durante um longo tempo. Imagens demasiado coloridas e em preto e branco apareciam e desapareciam. Rostos familiares e desconhecidos sorriam para mim.
Acabei acordando de meus devaneios.
-Cadê Nicolas?
-Ah, claro, Nicolas. Vejo que os dois já se conhecem. Até mais do que deveriam. Saiba que Nicolas foi dar uma volta, Íris, só isso. Uma volta.
Não respondi.
-Menina tola. Você não sabe as surpresas que seu destino guarda.
Ele riu da própria piada.
Não vi a menor graça. Eu traçava meu destino, as estrelas não tinham nada a ver com isso. Nada tinha alguma coisa a ver comigo.
Destino se levantou e pegou a bolsa.
Deixou no chão a adaga, a foto, e um outro papel. Um quadro de horários, pensei.
-Mas eu sei.
Ele disse, com sua voz rouca e cortante, cavernosa, segundos antes de sair pela porta da frente.
Uma brisa gelada passou por mim. Estremeci.

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Indico The Killers. É uma banda mais conhecida, mas o ultimo CD deles tá fantastico.

9.4.09

Feliz Pascoa !

Vou viajar nesse feriado, mas vou levar meu caderninho. Pode ter certeza de que vou voltar com um capitulo novo.
Desejo uma Feliz Pascoa com bastante chocolate - àqueles que gostam, claro.
Beijos.

8.4.09

Livros - Cap. 9


Eu deixei a caixa cair no chão. O mesmo aconteceu com a câmera. E acho que fui infeliz e acabei conseguindo quebrá-la.
Fiquei com muita raiva de mim mesma. Estragar aquela maquina de Polaroid, que nem era minha. Mas eu também estava com medo, muito medo. Ainda não tinha olhado para a porta, mas já imaginava quem estava lá.
Era Nicolas, tremendo, rodeado por sacolas de compras e trouxas de pano jogados no chão. Eu pude perceber as mais diversas frutas. Também haviam livros, livros lindos.
Livros grossos, de capa dura em veludo e com o titulo pintado em ouro. Eu queria tocá-los, eu precisava saber quais segredos eles escondiam.
-Íris? – Nicolas chamou por mim novamente. Eu estava tão entretida com os livros que acabei me esquecendo do medo e de meu companheiro. Olhei para ele com os olhos arregalados.
-Íris, porque você estava mexendo nas minhas coisas? Hein, porque? O que você viu?
-Pare com isso Nicolas. Não gosto que fiquem me perguntando de mais, isso me deixa tonta. Eu mexi porque eu quis, e vi o que meus olhos quiseram ver.
-O que seus olhos quiseram ver?
Ele parecia assustado, mas acho que queria fingir que estava tudo normal. Começou a arrumar as coisas caídas no chão. Ele ainda tremia.
-Eles quiseram ver um papel. Que eu tenho igual. E quiseram ver algumas fotos. Você é louco, porque tira fotos de pessoas dormindo? Onde você arrumou fotos minhas?
Enquanto falava, não tirei meus olhos do rosto dele. Ele hesitava em me encarar.
-Certo Íris, acho que devemos conversar.
Eu ri. Meu riso soou como folhas de papel se rasgando. ‘Você acha’, eu disse.
Ele pegou os livros de uma forma desajeitada, parecia que eles iam despedaçar. Quase que eu levantei para arrancá-los dos braços de Nicolas, mas me segurei.
Comecei a batucar no chão com meus longos dedos. O barulho era seco. Eu estava impaciente. Nicolas fez com que alguns minutos parecessem horas. Demorou, mas ele acabou sentando-se ao meu lado.
-Eu também trabalho com Destino. Eu também achei que minha vida tinha se acabado. Também me iludi, chorei, odiei e matei. Só que foi há bastante tempo atrás. Agora sou apenas eu.
-Como assim Nicolas? Há quanto tempo? Vamos, me conte, está me deixando curiosa.
-Minha historia não é interessante agora. Mas posso dizer que a primeira vez que me encontrei com Destino foi há uns 30 anos atrás. Eu fiz tudo que ele pediu. Ele me pedia pra matar, eu matava. Já não sentia remorso porque eu tava muito triste – tinha perdido toda minha família, amigos e inimigos em um acidente -, mas aí ele me mostrou você. Você seria meu próximo alvo. Mas eu não consegui.
Ele ficou um bom tempo olhando as próprias mãos. Uma lágrima caiu. Eu não gosto de homens chorando. Não que eu não ache chorar coisa de macho, porque chorar é humano, mas eu não sei consolar ninguém. Eu não sabia o que fazer. Então eu sorri. E só.
-Você está sorrindo. É porque não entende pelo que eu passei.
É, vou anotar. Nunca mais sorrir enquanto alguém chora.
-Íris, você se parece demais com uma pessoa muito especial que eu perdi, eu não podia te matar. E eu passei 3 longos anos me torturando e sendo torturado por Destino para te matar. Mas eu não consegui. Aí você foi e causou sua própria morte. Pelo menos agora posso ficar perto de você.
-Minha própria morte? Não, não fiz nada disso. Eu nem sangro mais.Acho que Destino só começou a gostar de mim. Ele meio que me salvou.
Nicolas suspirou e me encarou. Seus olhos brilhavam de fúria. Ele segurou meu rosto entre suas mãos e começou a falar. Ele estava falando grosso, muito grosso. Sua voz ficava chata daquela forma.
-Íris, entenda. Ele sabia que você não ia aguentar, que uma hora ia se entregar. Quando você chegou em casa após matar Amadeo, ele achou que você ia morrer. Mas ele estava errado, você é forte. Eu pretendo te ajudar Íris, querida, vou te ajudar em todos os momentos. Eu já não tenho saída, pois já faz muito tempo desde que Destino me transformou nessa coisa. Mas você ainda pensa, ainda sente algo, mesmo que pouco.
-Então você é tipo um anjo, assim, um ‘anjo-demonio’, que veio para me ajudar, certo?
-Certo.
-Ah, que bom. Eu pensava que você ia me matar ou algo assim.
Ele riu. Eu ri junto. Que pensamento bobo, esse meu. Nos abraçamos. E Nicolas me beijou.
Eu me assustei e o empurrei para longe. Afastei-me. Como homens podem estragar tudo em questão de segundos!
Foi então que me lembrei dos livros. Eu tinha que vê-los. Precisava.
-Porque você trouxe esses livros?
Peguei o maior e mais pesado. A capa era de veludo roxo. Havia apenas o nome do autor impresso. Abri.
As paginas eram grossas, as letras, lindas. Tinham desenhos por todos os lados, princesas pintadas que emanavam uma energia tão maravilhosa. Era um livro de contos de fada, mas eu não conhecia esse.
Folheei os outros cinco livros. Todos lindos, seguindo a beleza e delicadeza do primeiro, com historias desconhecidas e que me fascinavam.
-Você disse que gostava de Contos de Fada – Disse Nicolas -, mas eu acho que Branca de Neve anda muito ultrapassada. Fui na casa de um velho conhecido e peguei esses livros emprestados. Achei que você ia gostar.
Ele estava certo. Eu tinha adorado.
Peguei novamente o livro com a capa roxa, puxei a mão de Nicolas e fui andando para fora da casa.
O sol estava preguiçoso, se recusando a se deitar no horizonte. A luz estava bonita.
Me sentei na entrada. Nicolas fez o mesmo. Abri o livro e comecei a ler, me deliciando com a historia. Meus dedos demoravam-se nas paginas, contornando as ilustrações.
Olhei para Nicolas, sorrindo. Ele me olhou de volta. Me beijou novamente. E dessa vez eu não fugi.
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Indico The Kooks. Qualquer musica deles é bem vinda.

2.4.09

Polaroid - cap. 8

Ficamos horas conversando. Falávamos sobre a nossa vida. Sobre a vida de outros.
Discutimos sobre política, musica, cinema, arte. Ele fez alguns truques de mágica e me contou piadas. Eu dancei para ele.
Quando resolvemos sair de casa para ver o por do sol, nos assustamos. A lua já estava alta no céu, e as estrelas brilhavam como nunca.
Rimos do tempo, de nos mesmos. Tudo estava passando rápido de mais.
Quando nos demos conta de que a comida tinha acabado, uma semana já tinha passado desde o dia em que Nicolas batera em minha porta. As horas estavam parecendo segundos.
Nicolas foi a cidade, comprar algumas coisas para comermos. Ele me chamou para ir junto, mas eu não quis. Naquela manha, eu tinha visto um pedaço de papel que me trouxe péssimas lembranças. Avisei-o que não gostava de temperos nem de peixe, e falei que podia demorar o tempo que quisesse.
-Ok, mas quando eu voltar, quero ver essa casa linda. Vou preparar um almoço maravilhoso. Ah, também vou trazer algumas roupas, você ta horrível vestindo esses trapos.
-Nicolas, onde você vai arrumar todo esse dinheiro?
-Até mais tarde, Íris querida!
E ele saiu.
Eu gostava de ficar sozinha. Realmente gostava. Quando eu ficava sozinha, podia pensar em tudo que eu não pensava quando estava perto de outros. Tinha medo que os outros escutassem meus pensamentos.
Enquanto esperava Nicolas, eu fiquei pensando. Fiquei lembrando do tempo em que ainda podia pensar com o calor dos sentimentos.
O tempo passou. O sol já começava a baixar no horizonte, e Nicolas não chegava. Eu estava parada na mesma posição há horas, só pensando. Tinha que me mexer.
Levantei-me e resolvi arrumar a casa. Era a única coisa que eu podia fazer naquele momento.
Tirei os montes de lixo e coloquei pra fora. Mudei a poeira de lugar e peguei algumas roupas molhadas que estavam no varal. Olhei para o céu.
Ele estava triste, vermelho. Com cara de chuva. Com cara de perda.
Organizei meu pertences em pequenas prateleiras. Desorganizei e organizei novamente. Fiz esse mesmo processo outras três vezes, até decidir que era melhor deixar tudo dentro de minha mochila e só tirar quando necessário.
Foi então que o vi novamente.
Entre os poucos objetos que Nicolas havia trazido consigo, havia um pequeno pedaço de papel amassado. Intrigante.
Comecei a remexer naquelas pequenas tralhas. Cada vez eu achava aquilo tudo mais fascinante. No começo, eu pensara que ele tinha trazido apenas lixo, algo para comer, uma muda de roupa. Mas não.
Haviam diferentes tipos de pulseiras e brincos, uma carteira vazia, uma pedra em forma de flor, e uma flor dura como pedra. Peguei o papel com cuidado, com medo de que qualquer sopro pudesse enviá-lo para longe.
Desdobrei-o e li. Droga.
Estava escrito ‘Treine’. Da mesma forma que estava escrito no meu guardanapo sujo. Com as mesmas letras garrafais, como que em uma briga, de tão garranchadas que eram. É, eu não era a única.
Fiquei meio zonza no começo e minha cabeça se confundiu. Destino conversava comigo de uma forma que fazia com que eu me sentisse especial. Não especial, mas única.
E agora eu sabia que não era.
Mas até que fazia um certo sentido.
Nicolas não era um cara normal. Isso era óbvio. Ele nunca tentou se aproveitar de mim.
Ela era cínico. Tinha um sorriso sádico. Os movimentos leves, mas como se estivesse preso. Ele era tão parecido comigo. E isso começava a me assustar.
Comecei a mexer no resto das coisas dele. Havia ainda um canivete suíço com um pouco de sangue seco, um bloco de notas e uma caneta.
Mas o que mais me chamou atenção foi um objeto maior, preto, meio empoeirado.
Era uma câmera de Polaroid, bem suja e antiga, mas ainda funcionava. Eu nunca tinha visto uma câmera como aquela antes.
Peguei-a, tirei uma foto minha, tirei fotos da casa. Tirei uma foto minha novamente.
Também encontrei uma caixinha.
De papelão e não muito grande, ela guardava varias fotos. Fotos de pessoas, em geral.
Sempre que aparecia uma pessoa, havia uma sequência de fotos só dela, até uma ultima, que era igual para todos os outros. Era a pessoa dormindo.
Tinha de uma mulher loira correndo, almoçando, rindo. E dormindo. Um senhor chorando, lendo, pensando, e dormindo.
Haviam muitas fotos. Muitas fotos mesmo.
Eu já devia ter visto umas 100 diferentes. E cheguei em um grupo de três polaróides especiais que me chocou. Era eu. Rindo, dançando e olhando para o fotografo. Quem era o fotografo? Não era Nicolas, eu ainda não era Íris, ‘a monstra’ naquelas imagens.
Coloquei as outras fotos minhas junto com aquelas outras.
A porta se abriu com um estrondo.
-Íris?
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Indico Denimor. Escute Fabulous Fantabulous em www.myspace.com/denimor

28.3.09

Como gosto de escolher maçãs - cap. 7


Lá estava ele, parado em minha porta, com o vento acariciando seus cabelos.
Era o cara do bar, parado, na minha frente.
Quando bati meus olhos naquele rosto tão familiar, senti meus joelhos cederem. Borboletas começaram a voar na minha barriga, e se eu tentasse falar alguma coisa, provavelmente nada sairia.
Ele estava lindo sob aquela luz. Pela pouca distancia, percebi que seus olhos eram verdes. Como os meus. O cabelo estava mais denso, o rosto um pouco sujo, mas ele continuava lindo. Aí ele riu.
Eu me assustei, me assustei muito com aquele som. Parecia comigo.
Larguei a porta e dei alguns passos para traz. Acabei prendendo o pé em um buraco. Ótimo, estava prestes a me espatifar no chão na frente do cara do bar.
Mas não, ele conseguiu me segurar. Como que em uma dança, ele me segurou pela cintura e me puxou de volta para si. Me abraçou e sorriu.
-Eu estou te esperando há tanto tempo.
Ele era encantador de mais. Fatal de mais. Porém, eu estava começando a duvidar de que ele era apenas humano. Fiquei com medo de que fosse um disfarce qualquer de Destino.
Tentei me separar um pouco, mas ele era incrivelmente forte, e cada vez que eu o empurrava, mais ele me apertava.
-Anda, me solta logo de uma vez. Já sei quem você é, pare de brincar.
-Já sabe quem sou? Como?
Ele me soltou, mas como eu estava empurrando-o o tempo todo, acabei caindo no chão. Algo assim tinha que acontecer, sempre.
Sem perder toda a classe que eu nunca tive, me levantei e me coloquei numa pose que devia impor alguma autoridade. Comecei a falar.
-Não adiante Destino, você é muito bobo. A gente já se conhece há tempo suficiente para eu saber que você se fantasia. É meio ridículo isso, no final você sempre vai me mandar fazer algo ruim. Agora, por favor, volte a ser como é que esse seu novo rosto me incomoda, e aí sim poderemos conversar.
O cara do bar me olhou, tossiu de alguma forma estranha, me olhou de novo. Parecia que ele queria vomitar.
-Certo, acho que meu disfarce não funcionou. Mas não irei tirá-lo por enquanto. Eu só gostaria que você fosse colher algumas maçãs para mim, assim poderei te ensinar algumas coisas.
-Hmm... então finalmente saberei como envenenar uma maçã?
-E se você ficar boa nisso, posso te ensinar a roubar sapatinhos de cristal.
Rimos juntos, eu adorava contos de fada. Desde criança, esse era o tipo de coisa que eu lia para me animar nos piores momentos. Estava gostando desse novo Destino.
-Corra menina, eu não tenho todo o tempo do mundo. Corra e traga-me as maçãs mais vermelhas e suculentas.
Continuei a sorrir. Sai de minha casa e corri pelo campo que tinha em frente. Dei voltas e voltas pelo lugar, pensando naqueles olhos verdes e no dialogo. Pensei na nossa conversa o tempo todo. Acabei me esquecendo que a única macieira que havia por perto ficava a alguns quilômetros de distancia, então acabei demorando um pouco mais que o normal.
Cheguei ao pé da arvore com algumas gotas de suor em minha testa.O sol estava forte, ofuscando meus olhos e deixando o resto dos animais com preguiça para sair de suas tocas aconchegantes.
Colhi a primeira maçã, vermelha e gorda, e a deixei no chão. Me agarrei aos galhos, cortando joelhos e dedos no esforço de subir.
A arvore já era velha e seca. Achava um milagre ela ainda dar frutos.
Consegui 7. Sete belas maçãs, enormes, vermelhas. Pareciam deliciosas, mas não me atrevi a experimentar uma sequer.
Segurei-as em meus braços e voltei, caminhando com pressa, com medo de que as frutas caíssem no chão. Mesmo que fossem para mim, se alguma delas se amassasse ou coisa do tipo, eu não ia me perdoar. Estavam bonitas de mais.
Cheguei suada, suja, e com as maçãs intactas. Sorrindo, coloquei-as sobre um pano estendido no chão e olhei para o cara do bar. Ele me olhou, se divertindo. Novamente, parecia que ia vomitar.
-O que houve, você não gosta de maçãs? Me mandou pegar algumas, mas nem irá tocá-las?
-Não é isso. É que você caiu. Achava que Destino escolhia melhor seus ajudantes.
-Mas você não é Destino?
-Na verdade não, não sou. Sou Nicolas. Não se assuste por eu saber muito sobre você. Ando te observando há algum tempo. E posso dizer que te entendo, pois passei - e ainda passo – pelo seu mesmo dilema.
Seu nome era Nicolas. Ele provavelmente também tinha sido vitima de Destino. Mas uma coisa ainda não se encaixava na minha cabeça.
-Porque pediu que eu trouxesse maçãs?
-Eu gosto de maçãs. E de contos de fada, se não percebeu.
Eu gostava cada vez mais de Nicolas, tinha certeza de que seriamos bons amigos. Sorri para dentro e comecei a brincar com uma fruta.
Ele riu novamente, pegou uma maçã, e comeu.
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Agora, alem da historia, vou indicar uma musica/banda que eu gosto. Dessa vez, vou indicar o Rodrigo Del Arc. A musica 'Trip' é uma das minhas favoritas. Você pode escutar em www.myspace.com/rodrigodelarc

15.3.09

Sentimentos - cap. 6

Foram três meses nessa rotina estúpida de brincar de assassina. Depois que me cansei da veterinária, resolvi ir caçar num bosque perto da cidade. Também me cansei disso.
Não consegui passar nem uma semana no açougue. Transformava todas as carnes em pequenos cubos, o dono me chamou de louca.
No segundo mês eu resolvi parar com tudo. Parei de trabalhar, larguei a escola, nunca mais falei com meus amigos. As vezes eu os via na rua, eles me encaravam e cochichavam entre si, mas nunca chegavam perto.
Passei a assistir mais televisão, ficava vendo seriados de detetives o dia inteiro. Passava dias na biblioteca publica procurando artigos e documentos sobre seriais killers. Eu estava começando a gostar deles. A me identificar.
Mas eu estava sozinha de mais. Tinha começado aquilo tudo, tinha aceitado me vingar, porque alguém tinha me largado, me deixado sem sua companhia. E agora eu não tinha companhia nenhuma.
Me exercitava todos os dias, andando de bicicleta pelo parque e apostando corrida com os carros. Eu sempre ganhava.
No final do terceiro mês já estava entediada. Destino nunca mais apareceu, não recebi nenhuma mensagem subliminar, e tinha certeza de que ele não estava me vigiando. Comprei garrafas e garrafas de bebida, me livrei de todo o alimento que ainda existia na minha casa e me deixei levar pelo álcool.
Não ganhava mais dinheiro trabalhando com coisas úteis, mas passava todas as noites de todas as semanas em boates.
Os homens ficavam me olhando, sentavam-se perto de mim. Tentavam se aproximar e faziam de tudo para conseguir minha atenção.
Exibiam dinheiro, exibiam corpo, exibiam palavras. Eu não dava a mínima.
Não estava naquele lugar para levar alguns machos para minha casa, ou para ir pra casa deles – mesmo que algumas noites eu o fizesse. Eu estava ali para observar.
Eu gostava de ficar olhando as pessoas dançando, tentando conversar umas com as outras. Eu ficava apreciando a vida dos outros, já que era impossível apreciar a minha.
Ia a vários lugares diferentes, mas um deles me chamou a atenção, e resolvi frequentá-lo.
Era um clube nos subúrbios. Tinha um karaokê, algumas mesas de cartas, caixotes espalhados para as pessoas se sentarem e um bar. O lugar cheirava a cerveja velha e problemas.
Eu ficava vendo os velhos gordos jogando cartas para se mostrar para meninas bonitas, que tinham idade para serem suas netas. Os homens trapaceavam o tempo todo. Só um que jogava limpo.
Era um garoto de vinte e poucos anos, magro e com cabelos encaracolados. Usava óculos, e parecia muito, muito inteligente. Eu só o vi jogando uma vez, mas jogou limpo. E perdeu todo o dinheiro apostado.
Sempre que eu o via, ele tinha uma garrafa de água e um livro na mão.
Não entendia porque ele passava as noites naquele bar barulhento. Se quisesse ler, que ficasse em casa. Mas eu não queria que ele ficasse em casa, gostava de observá-lo.
Enquanto lia, ele fazia expressões de espanto, felicidade, ódio, afeto. Coisas que eu não sentia mais. Eu só sentia curiosidade.
Tudo o que eu queria era saber mais sobre ele. Quem era esse tal homem que preferia ler no barulho, que mudava de sentimento varias vezes em apenas uma frase?
Mas eu não pude descobrir. Todo o meu dinheiro acabou, estava com o aluguel atrasado e não comia a dias. Eu não ligava para a comida, mas realmente precisava de um lugar para dormir.
Enfiei algumas roupas numa pequena mochila, peguei minha bicicleta e sai. Eu gostava muito de observar as pessoas, mas a vida de todos naquela cidade era extremamente chata. Trabalhavam, mentiam, traíam. Ninguém era realmente interessante. Ninguém exceto o cara do bar.
Jurei para mim mesma que ainda iria encontrar com o garoto novamente.
Sai andando na bicicleta pela rua, rumo a estrada. Se eu não encontrasse nada no caminho, poderia me hospedar na toca de um casal de coelhos. Eles provavelmente me receberiam melhor que pessoas normais.
Eu acho que devia ter trocado de sorte com alguém, pois a 30 quilômetros da cidade encontrei uma casinha abandonada.
Era de madeira e tinha três cômodos. O suficiente para mim.
Parecia que com uma leve brisa ela poderia desabar, mas só parecia. A madeira era forte e resistente, quase sem rachaduras.
A casa ficava um pouco distante da estrada, num local seco, sem nenhuma vegetação. Sem vida. As vezes passava um lagarto, um inseto, e com sorte um passarinho.
Aquele lugar era perfeito.
Passei 3 dias na casa. No quarto dia alguém bateu na porta e gritou o meu nome.
Fiquei curiosa, com um pouco de receio. Devia estar delirando. Não atendi.
Passou um tempo e bateram de novo. E de novo, e de novo.
Peguei uma faca, caso precisasse. Como dizem, melhor prevenir do que remediar. Fui até a porta.
Não precisei da faca. Quando descobri quem me chamava, levei um susto e deixei-a cair no chão, fazendo um baque.
Socorro.

4.3.09

O Bilhete - cap. 5

Tudo já estava muito escuro. Deviam ser 2 da manhã.
O hotel em que Amadeo jazia deitado já tinha desaparecido de vista, mas eu ainda estava muito longe de casa.
Eu estava caminhando há horas. Minha cabeça girava, e eu não chegava a lugar nenhum. No meu divertimento com o garoto, esqueci quem ele era. Esqueci quem era eu mesma. Acho que por isso que na hora me senti ótima ao matar.
Mas depois, sem carros passando na rua e nenhum barulho de vida alheia, eu me coloquei a pensar.
Eu tinha tirado a vida de alguém. De alguém que nem era um alguém direito ainda. Que ainda tinha muito para aprender, vivenciar. E eu que tinha roubado tudo aquilo dele.
Roubar. Acho que essa é a palavra perfeita pra isso, pra tudo. Roubar é a pior coisa que a gente pode fazer. Eu tinha roubado a alma de Amadeo, a essência da vida dele, e agora estava carregando-a nos braços. Eu estava carregando a prova de um assassinato, qualquer idiota conseguiria perceber que eu tinha matado alguém.
Naquele momento, me dei conta de como era estúpida. Destino era o culpado de tudo, tudo. Ele estava me manipulando, colocando coisas na minha cabeça, e eu estava fazendo o papel da boba que fazia tudo.
Vomitei. Já estava na hora de vomitar mesmo. Vomitei meu jantar, o vinho, as palavras e todo o meu ódio. Vomitei minha razão. Destino ia se ver comigo.
Corri o mais rápido possível. Tinha que chegar em casa.
Coloquei a chave na maçaneta com um pouco de dificuldade. Estava tremendo de mais. Antes de abrir a porta, me dobrei sobre os joelhos para recuperar o fôlego. Quando levantei a cabeça, a porta já estava aberta.
Destino estava sentado em um banquinho, me olhando com um sorriso cheio de fúria. Bateu palmas me encarando. Eu podia sentir o cheiro da raiva dele.
Certo, tudo bem, eu pensei. Vou acabar com tudo agora, largar esse trato e voltar a ser como era antes. Qualquer coisa, Amadeo teve uma overdose.
-Destino, eu realmente preciso de te falar uma coisa.
-Eu sei. Eu também tenho que te falar algo. Mas eu tenho todo o tempo do mundo, então diga, vá em frente. O que você realmente precisa me falar? – Ele me respondeu com um tom zombeteiro, como quem já sabe o final da piada.
-Eu não quero mais fazer nada disso. Não quero vingança. Já to bem assim, Zach que se dane.
-Você quer me largar então? – Eu assenti– E como você pretende fazer isso, se as marcas do nosso pequeno acordo já estão no seu corpo?
-Você pode me fazer voltar ao normal, eu não ligo. Pode levar quanto dinheiro quiser também-
O banquinho voou e bateu na parede, fazendo um barulho ensurdecedor. Não fui capaz de terminar a frase, Destino começou a berrar.
-DINHEIRO? Você acha que EU preciso de dinheiro? Não, menina, não preciso de nada! Você já disse que sim, não tem como voltar atrás.
A voz dele ecoava por todos os lados. Todos os vizinhos deviam estar escutando. Aquele homem era louco, eu tinha certeza. Mas o Louco me agarrou pelos braços e começou a falar grosso, me encarando. Só que ele não tinha olhos. E eu me assustei.
-Vim aqui para lhe dar as primeiras instruções. Se você não fizer as coisas como estou pedindo, então não fará mais nada. Tenho certeza de que haverá um espaço no inferno para você, caso eu precise.
Eu não queria que ele roubasse a minha vida. Não estava pronta pra isso. Assenti novamente.
Como qualquer filme de terror que se preze, Destino deveria desaparecer numa nuvem de fumaça e deixar as instruções escritas em sangue na parede, ou em algum código difícil.
Mas isso não era um filme. Era a minha vida acontecendo. Ele usou a porta da frente, e antes de sair enfiou um pedaço de guardanapo entre os meus dedos. Bateu a porta com muita força. Fiquei surpresa com a resistência da minha casa, tinha certeza de que ela iria desabar.
Abri o pequeno papel. Aquele homem realmente era um porco. Haviam manchas de gordura e restos de comida se misturando com as letras de uma pequena palavra naquele guardanapo. Grudei-o na geladeira e fui me deitar. Precisava dormir.
“Treine, treine, treine”. Milhares de vozes estavam sussurrando isso na minha cabeça.
Destino queria que eu treinasse. Eu não queria treinar. Mas precisava.
Não consegui dormir naquela noite e nem nas seguintes. Acho que isso me ajudou a enlouquecer. Também não tinha a menor ideia de como treinar, mas acabei usando a criatividade.
Arrumei um emprego na veterinária. Eu não tinha que fazer muita coisa, apenas matar os animaizinhos que não tinham saída. Também passei um certo tempo num açougue, aprendendo a usar uma faca.
Com o pequeno salário que ganhava, ia ao parque de diversões e treinava tiros. Eu era simplesmente ridícula.

19.2.09

A cor do vinho - cap. 4

Sai de casa feliz aquele dia. O sol brilhava de uma forma diferente. Todos me encaravam.
Eu adorava toda aquela atenção. Sabe como é, quando se passa de gata borralheira pra Cinderela da noite pro dia, a gente só quer aproveitar. Pelo menos isso eu fiz de bom.
Cheguei ao tal ponto de encontro dos meus amigos com alguns vários minutos de atraso. Meu objetivo era ser a ultima a chegar, para ter certeza de que todos os olhos se voltariam para mim.
Foi mais ou menos o que aconteceu.
Coloquei o pé no gramado perto do pátio da escola. E o que se seguiu parecia mais uma cena de filme.
Um ventinho bateu e brincou com meus cabelos. Os meninos se viraram e me encararam. Seus queixos caíram.
Se remexendo debaixo daqueles uniformes de futebol, alguns esfregaram os olhos, para ter certeza de que estavam vendo direito. Outros soltaram assobios e se aproximaram. No final, tinha uma rodinha ao meu redor, os olhos querendo aprisionar cada mínimo detalhe. E eu de pé, sorrindo, contando uma mentira para explicar tal mudança, fazendo movimentos exagerados com a cabeça, olhando os garotos nos olhos.
Como era de se esperar, logo depois daquela agitação recebi uns três convites para jantar. Já que não tinha muita coisa para fazer, aceitei um.
O nome do menino era Amadeo. Nunca gostei dele. Sempre o mais bonito do grupo, tinha tanto orgulho que, se fosse comestível, dava pra acabar com a fome no mundo. Achei que podia ser uma boa vitima.
Saímos naquela mesma noite. Ele me pegou em casa (e se assustou com o buraco em que eu morava) em seu carro importado, elogiou minha roupa (não era nada de mais. Na verdade já tinha usado aquela blusa três vezes) e me levou para um restaurante de um hotel.
Eu nunca tinha ficando tanto tempo assim em um lugar tão cheio de pessoas ricas e fúteis. Amadeo era um deles.
Ficava o tempo todo falando do seu dinheiro, dos seus planos para o futuro, dos seus contatos pelo mundo afora. Ria alto de mais e tentava me tocar com grande frequência. Eu não gosto de pessoas tocando em mim. Ele teve muita sorte da faca não ter ponta .
Já tinham se passado 3 horas naquele lugar e eu não tinha conseguido me divertir. Aquela comida requintada de mais não era boa, e meus ouvidos queriam sangrar com tanta baboseira que Amadeo falava. Aquela noite parecia ser a pior da minha vida. Estava prestes a me levantar, mas ele me impediu. Acho que foi a primeira vez que meu acompanhante prestava atenção em mim e não no próprio umbigo. Ele segurou a minha mão.
-Ei, Íris, ta tudo bem? Ta curtindo a noite? Se você não gostava desse tipo de comida, tudo bem.
Ele me deu atenção. Agora vou me aproveitar.
-Não se preocupe Amadeo, tudo estava ótimo. Maravilhoso. É que eu to um pouco cansada, sabe. Muita coisa acontecendo na minha vida, e já ta um pouco tarde...
-Estamos em um hotel, linda. Se você quiser, podemos ficar em um quarto.
-Se você não se importar... – Ele tinha chegado ao ponto. Falou a frase correta. Hora de me divertir.
-Claro que não me importo! Pode ir para o elevador, eu vou chamar o garçom.
Procurei um mapa, segui por uma série de corredores e me perdi. Me perdi umas 5 vezes. Mas enfim cheguei no quarto. E Amadeo já estava lá.
Havia uma garrafa de vinho sobre a mesa, junto com alguns botões de rosa. Eu estava rolando de rir por dentro.
Ele saiu do banheiro vestindo um roupão. Parecia um daqueles magnatas podres de rico que usam seu dinheiro para conquistar mulheres maravilhosas. Resolvi entrar no teatro.
Tudo o que se seguiu foi nojento. Eu não gostava dele. Ele gostava do meu corpo. Nos deitamos na cama e eu tive a brilhante ideia de abrir o vinho. Na verdade, foi a melhor ideia da noite.
Eu abri a garrafa e me deitei ao lado de Amadeo. Sorri da forma mais assustadora que podia. Comecei o meu discurso.
Perguntei se ele gostava de vinho. Ele disse que sim.
Deixei cair um pouco de vinho na boca dele.
Perguntei se ele gostava de mim. Ele disse que sim.
Fiz a mesma coisa.
Perguntei se ele se divertia enganando garotas com toda aquela grana. Ele se assustou. Tentou falar alguma coisa, se proteger sob as palavras. Mas acabou se afogando nelas.
Virei a garrafa de uma vez pela garganta do garoto. Nunca gostei dele mesmo.
Depois de se engasgar um pouco, ele ficou meio roxo, da cor do vinho. Ficou em silencio. Eu gostava mais dele assim, quieto. E depois dormiu.
Fiquei encarando aquele corpo inerte por alguns segundos. Ele realmente era bonito quando de boca fechada.
Limpei o rosto do garoto, troquei os cobertores sujos de vinho por cobertores limpos, coloquei-o deitado, parecendo que estava dormindo e saí.
Não sei se foi premonição, intuição, pressentimento ou só um arrepio, mas senti que devia voltar pra minha casa o mais rápido possível.
Aquilo tudo parecia um jogo. Matar, fugir. Eu estava me divertindo.