9.9.09

Fobia


A perna enfraquece. Pra andar, tenho que fazer aquela força mais forte que o mundo, mais forte que eu. Dou um passo. Pou! O pé se joga no chão, pedindo trégua. Mas continua, não tão firme e nem um pouco forte, na direção da forca.
Sento-me naquela cadeira grande. Me deito. Mas só deito porque me obrigaram. Olho para cima, uma luz forte, que me cega. Desvio o olhar. Do lado, uma mesa de metal com os instrumentos de tortura. Todos prateados, limpos e brilhantes, pontiagudos. Desvio o olhar novamente. Agora vejo o meu carrasco. Ironicamente, se veste de branco. A roupa, as luvas, a mascara, a touca.
Senta-se ao meu lado e sorri. Pergunta como estou enquanto abre a minha boca e enfia uma navalha entre meus dentes. Uma lágrima cai.
São 40 minutos que passam como horas, dias e noites, anos e três longas vidas. Demora a acabar. A dor não passa, a tremedeira não passa, o medo não passa... E não posso pedir socorro, ah se eu pudesse.
Me levanto da cadeira segurando um choro que, quando é autorizado a sair, nunca para. O Carrasco fala. Fala que terei de ir lá outras vezes. Para uma tortura pior. Colocar aparelho horrendo e que causa dor, preso em mim por dois longos anos. Em silencio, peço socorro.
Entro no carro correndo, começo a chorar lá dentro e só paro ao sentar aqui na frente, pois não consigo enxergar as teclas.
Tenho fobia. Não, não tenho, eles que são cruéis. Sim, tenho. Não. Sim. Socorro. Preciso de uma saída. Preciso de um socorro, preciso de fugir.

Um comentário:

Justine disse...

Texto estupendo, menina:)) Descreves cinematograficamente, recrias o ambiente nos seus detalhes mais significativos, e consegues transmitir a dor e medo da protagonista como se fosse eu a senti-la. Tudo isto economicamente, sem palavras desnecessárias. Excelente!Parabéns!