24.5.10

O céu, o outono, o homem e a mulher


Havia um banco. Um banco branco. Um banco branco, grande, de granito, frio, feio, triste e sozinho, no meio da praça. Sobre o banco, havia um homem. Sob o homem, havia um banco.
O homem era alto e magro, e, sob os cabelos encaracolados, seus olhos estavam fixos em um jornal. O homem lia.
Por uma porta de madeira (que separava aquele mundo real do imaginário), entrou a mulher. E, junto da mulher, sem convite, entrou a brisa musical do outono que se despia de suas folhas secas e mortas.
A mulher era ela, nem alta nem baixa, nem gorda nem magra, era apenas ela, mulher, mente e alma. Trazia consigo uma musica, e, com ela, o mundo dançava.
A mulher, harmoniosa em si, sentou-se no banco branco ao lado do homem que lia o jornal.
O céu, acima das cabeças do homem, da mulher e da frieza do banco, olhava para baixo, acolhedor em seus leves tons pasteis. Era azul e amarelo, era um céu de outono que alegrava o coração da mulher.
Tem coisa mais bela e perfeita que o céu? Ele é por ser. Não se compara, simplesmente é.
E o homem olhou para a mulher, enfeitiçado pelos seus pensamentos alheios.
E a mulher olhou para o homem, curiosa em sua estampa.
E enquanto ambos se contemplavam, uma águia viril entrou pela porta. A porta caiu, a musica se esvaiu, o outono se foi.
Todas as coisas mais belas daquela manhã de maio se esconderam em suas tocas, mas o céu por lá ficou, em sua magnitude, sereno. Ele foi o único que percebeu.
Envoltos pelos ventos cortantes que chegavam com pressa, a mulher e o homem continuavam a se encarar. Vez ou outra, a mulher murmurava uma melodia de verão. E o homem sorria um pouco mais.
Passaram-se mais três estações, até as primeiras palavras ditas, estilhaçando o silencio em pequenos cacos de saudade.
E a mulher e o homem conversaram por alguns minutos até começar a chover. O homem virou-se e foi embora, protegendo-se com o jornal. A mulher por lá ficou, observando os lamentos do choro do céu a presenciar mais um final infeliz.

12 comentários:

Letízia disse...

Um belo conto, envolvente, encantador.
Gostei muito.
Beijos

Anônimo disse...

nem sempre as emoções são passadas como realmente são para um texto

esdras disse...

Mágico, denso, poético, dalilesco...Eriquiano...beijo!!!

esdras disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vitória Doretto disse...

Lindo, envolvente.
Perfeito e incrivel como sempre ^-^

bjão e boa semana. =^.^=

Gárgola disse...

Palavras e artifícios da linguagem bem utilizados e que em espiral vão rodeando o leitor.
Tell me when are you coming, OK?

besos

Carol Anchieta disse...

Lindo, amei a foto....
Bj
Carol

Jéssyca Carvalho disse...

Pois é que, às vezes, as palavras podem esmagar. Esmagar o belo, o intocável, o gostoso acompanhante: silêncio...


Gostei muito do texto!

Jeferson Cardoso disse...

Parabéns, bom é isso, final surpreendente.
Jefhcardoso do http://jefhcardoso.blogspot.com

N. disse...

Sem muitas palavras, pois acabei de ler e sinto uma erupção surgindo em mim.
Não acho que seja o tipo de coisa que se dá parabéns por escrever. A satisfação interior do processo de criar esses mundos já é exponencialmente maior que uma crítica vinda de fora...

Postei seu texto em meu blog, com os devidos links, para poder ler mais e mais vezes. Não é divulgado nem nada, é mais pessoal mesmo,
mas se te desagradar me avise e dou um jeito de salvá-lo em algum outro lugar. É só que o blog é meu refúgio à prova de panes de disco rígido.

Eri disse...

bonita história, gostei do jogo de palavras :) bjo, bom fds

Larissa Carvalho disse...

que texto é esse +__________+'
muito lindo, muito mesmo *-*

passa lá ↓ =D
http://segredoosqueguardei.blogspot.com/