20.10.09

A Ligação

Era terça à noite. Geralmente, ela sentaria à mesa e estudaria até seus olhos pedirem um descanso. Mas fazia uma semana que nada era como sempre foi.
Pegou o telefone, discou, desligou. O que falar? Não tinha ideia. Criou um diálogo na cabeça. “Oi, tudo bem? Então, é, bem, quer conversar? Não tenho muita coisa pra fazer.”.
O começo estava ótimo. A continuação era por conta da resposta dele. Sentou-se ereta, pegou o telefone e discou novamente.
“Alô?” – Era uma voz de mulher.
Ela não contava com isso. Mas respirou fundo e pediu que o chamasse.
“Oi, tudo bem? Então, é, bem, quer conversar? Não tenho muita coisa pra fazer”.
Sua preparação surtiu efeito e conversaram por horas. Se o assunto acabava, ele perguntava o que ela tava pensando - ah, como ela adorava essa pergunta - ela respondia e a conversa continuava.
“Mas então, o que você acha de mim?” - Ele perguntou, então, com um sorriso na voz.
Ela não sabia o que responder. As palavras a fugiam. Não sabia como dizer a ele que não havia melhor hora para ele entrar em sua vida, não sabia como dizer o tanto que ele a deixava feliz.
Soltou um “Ah...” que significava “Eu achava que nunca mais seria feliz assim, mas olha pra mim agora! Todo dia espero chegar de noite pra gente conversar”
“Ah...?”. Ele não entendeu. Ela repetiu. “Ah...”. Dessa vez significava “Como assim o que eu acho de você? É o cara mais fofo de fofo que eu já conheci, é bem mais do que especial pra mim.”.
Ele riu do outro lado da linha, “Tudo bem, depois você pode me falar.”
Ela ficou sem jeito, pensou em falar alguma coisa, mas não queria parecer uma idiota. Queria parecer uma idiota com um pouco mais de estilo. Estava inspirada.


- Se não está disposto a parecer um idiota, não merece se apaixonar.