11.12.10

Secreções desgostosas prazerosas em meu ser


Palavras vomitadas no escuro da noite me consomem. Sinto nojo quando a gosma fétida me encosta. Meu reduto particular é tomado pelo cheiro nauseante. O desespero em minha cabeça sufoca e tortura. Não sei mais onde estou e nem o que quero, desconheço minhas razões e os objetivos aos quais me prendo. Apenas sei de ti, e nós, e as palavras que me mantém acordada neste meu momento que antigamente eu chamava de paz.

Mas de ti e nós não sei mais é de nada. E esse vômito que agora me cobre é feito só de águas passadas. O movimento dos moinhos no horizonte já me é entediante. O barulho do vento não assusta mais. Às vezes eu via reflexos à janela e me punha curiosa a observá-los. Agora quero desvendá-los. Atraí-los com pseudo-iscas para a minha armadilha espectral.

Podia muito bem levantar-me e pegar um balde para limpar o chão. Entrar na ducha fria para me purificar. Mas, ao contrário, sinto-me atraída pelo desgosto. Quero mesmo é que esse vômito nostálgico me cubra por inteiro e me afogue em seu querer de agora sei o que ali havia. Penso que se talvez o cultivasse e vomitasse uma vez por noite, o passado, querido e amado, confortaria as almas penadas, sujas e solitárias, que agora vagueiam pelos meus corredores internos a sussurrar nadas ao vácuo em busca de informações que na verdade evitam. Almas masoquistas.

O barulho que o relógio faz me acorda. As palavras que já estão fora do meu ser rodopiam pelo ambiente que não sei nomear mais. Palavras carregam nada mais que simplesmente o que elas querem te dizer. Elas só mostram o que elas querem que você veja. As palavras que eu expeli sempre se dividiram em dois grupos: as cheias de pudores que se juntavam em grupos, aos cantos, e as vulgares. As vulgares se desnudavam diante de todos os olhos, até mesmo dos mais crentes, querendo mostrar tudo o que tinham. Mostravam-se sozinhas, melhores que as outras. Elas sempre eram um pouco mais do que diziam ser, e queriam porque queriam mostrar isso.

Tic Tac Tic Tac.

Vomitei de novo.

Agora acordada.

Normalmente eu vomitava ao me deitar na cama. Antes do repouso total e absoluto (aquele que quando ingênua eu chamava de paz), punha-me a pensar e pensar e pensar e pensar e pensar. Criava situações utópicas para me entreter no que seria uma pretidão sem tempos. Uma coma temporária. E ao criá-las e recriá-las descobri que na verdade eu somente remontava tudo aquilo que já havia de certa forma vivido. Ignorava o recente, pois o recente sai de moda mais rápido. E o recente é aquilo que não gosto mais. Sou uma alma velha. Gosto dos antigamentes.

4 comentários:

isabela boechat disse...

a parte que eu mais gostei foi a do "elas sempre eram um pouco mais do que diziam ser", sobre as palavras vulgares! talvez porque quando descobri o que era idiossincrasia pensei na hora nessas palavras... beijos, ATÉ AMANHÃ NO TEATRO YAYYY ps: descobri ontem o que era idiossincrasia, ahah

Naia Mello disse...

acho que a gente monta isso, porque só o subconsciente sabe da pura verdade.

Anônimo disse...

heeey! adorei o seu blog todinho!
sou nova. voce pode dar um força?
seguindo!
XX

Atreyu disse...

Foi um texto bem psicodélico